Não é de hoje que o Muntchako, trio formado por Rodrigo Barata (bateria e samplers), Macaxeira Acioli (percussão e samplers) e Samuel Mota (guitarra, banjo e synths), ironiza em suas produções. O clipe de Golpe lançado entre 2016 e 17 foi nada menos que o primeiro no mundo a oferecer a versão em videokê de uma música instrumental — Tão inusitado quanto o Grande Acordo Nacional que denuncia. O “fonforofonfôn” do trombone que expôs ao ritmo da conga a conjuntura da época, agora dá voz a uma crítica mais intensa, começando com a fala do guru surtado da presente tragédia brasileira.

Essa é a primeira incursão do Muntchako em uma canção com Macaxeira na voz. Apesar dos refrões de Coqueirinho Verde, Vitamina Central e Cardume de Volume, esta com participação de Deize Tigrona, as composições eram predominantemente sem vocais. Pra completar, o single conta com os paraenses Keila e Felipe Cordeiro num eletromelody ressaltado por samples e riffs que mesclam latinidades amazônicas e urbanidades periféricas. A produção é uma junção de Zarabatana Records, Yukka Frita Music e Estúdio Floresta. Um passeio que leva do popular ao pop.

Os ‘Mundias Tchatchatchas Nocauteadores’ da terra seca do Planalto Central chapam a cabeça de quem escuta e chamam pra dançar zombando a ignorância. A realidade achatada em duas dimensões é ilustrada pela artista baiana Helen Fernandes, a @malfeitona com apoio de Carol Brandão @antropomagia. O clipe tem assinatura de Gustavo Gomes @gguskol e exibe os artistas em plano com imagens que vão de sapatênis e memes ao tal patriota que não sabe sequer usar uma máscara.

A exposição ao ridículo é uma ferramenta que convida a pensar, a entender por trás das imposições afirmativas quão absurdas são algumas conspirações. Jargões como “ciência quer te enganar” foram esgotados até soltar um “Galileu se fodeu!”. Tirando onda, a música preenche quatro minutos com uma sonoridade pop tropical que vai te fazer dançar em casa durante a quarentena.

“Sem cerimônia, o Muntchako treme na periferia de Belém, mama no forró paraibano, swinga no ska jamaicano, rebola na latinidade, faz cara de mau no rock, sensualiza no tango, sobe o morro do baile funk e perde o chinelo na discoteca.”

Foram muitos quilômetros rodados, os três já passaram pelos festivais internacionais como Tropical Pressure no Reino Unido e Alta Voz Fest na Colômbia e em território nacional por palcos como o Psicodália (SC), o Sensacional (MG) e a SIM São Paulo. Samuel Mota já trabalhou com Jah Live e GOG, Barata com Criolina ao lado de Ops e Pezão e Macaxeira com Hypnotic Brass Ensemble

Há outros trabalhos por vir como Buda Loves já anunciada e a promessa de um 2020 mais envolvido com o pop, levando todas as referências, instrumentos e camadas que acumulam no repertório ao longo dos anos, com Macaxeira como revelação nos vocais. Enquanto isso escute e repita o novo single:


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REVEJA GOLPE

— Felipe Qualquer
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