Mundo enfrentará aumento extremo do calor até 2027 com menos chuvas na Amazônia
ONU já enfatizou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados. Novo relatório aponta caminhos para reverter o ‘ponto de não retorno’
Em novo relatório, a Organização Meteorológica Mundial alerta que o planeta terra enfrentará um período de temperaturas sem precedentes nos próximos cinco anos, com consequências profundas em várias regiões do mundo, principalmente na Amazônia. A informação foi divulgada pelo jornalista Jamil Chade, no UOL.
No norte do Brasil, espera-se uma redução no regime de chuvas, o que poderá ter um impacto significativo em um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta e, além de atingir em cheio o estilo de vida de ribeirinhos, indígenas, quilombolas e moradores da Amazônia, o grave cenário pode atingir diretamente moradores do semiárido no Nordeste, além da agricultura realizada na região centro-oeste, sudeste e sul, que se sustentam por meio dos “rios voadores”.
Na prática, o relatório prevê que a alteração no regime de chuvas irá acelerar o aquecimento global e levará a humanidade “a um ponto de não retorno”, alertou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.
Esse fenômeno será impulsionado tanto pela persistente concentração de gases de efeito estufa, que retêm o calor, quanto pelo retorno do El Niño em grande intensidade. A organização já enfatizou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados.
Agora, a agência ligada às Nações Unidas prevê o seguinte:
- Existe uma probabilidade de 66% de que a média anual da temperatura global na superfície entre 2023 e 2027 seja pelo menos 1,5°C superior aos níveis pré-industriais durante pelo menos um ano.
- Existe uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos, assim como o período de cinco anos como um todo, seja o mais quente já registrado.
Seca na Amazônia
Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas emitiu um alerta, destacando os riscos para os sistemas naturais e humanos diante do aquecimento global de 1,5°C.
Outra constatação é que os próximos anos marcarão anomalias nos regimes de chuvas em várias partes do mundo, inclusive no norte do Brasil.
“Os padrões de precipitação previstos para 2023 em relação à média de 1991-2020 sugerem uma maior chance de redução de chuvas em partes da Indonésia, da Amazônia e da América Central”, disse o informe.
O jornalista Jamil Chade explica que, para os próximos cinco anos, as previsões de precipitação mostram anomalias de umidade no Sahel, norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e anomalias de seca para essa estação na Amazônia e oeste da Austrália. O sul do Brasil também será afetado.
“Entre 2018 e 2022, partes da Ásia, sudeste da América do Norte, nordeste da América do Sul e o Sahel africano foram mais úmidos do que a média, e o sul da África, Austrália, sul da América do Sul, oeste da Europa e partes da América do Norte foram mais secos do que a média”, disse o informe da ONU.
Em 2022, a temperatura média global ultrapassou cerca de 1,15°C em relação à média registrada entre 1850-1900. Durante os últimos três anos, o resfriamento causado pelas condições do La Niña temporariamente controlou a tendência de aquecimento de longo prazo. No entanto, em março de 2023, o La Niña chegou ao fim e há previsões de que um El Niño se desenvolva nos próximos meses.
- Normalmente, o El Niño eleva as temperaturas globais no ano seguinte ao seu surgimento, o que significa que em 2024 pode haver um aumento significativo nas temperaturas.
- Estima-se que, para cada ano, entre 2023 e 2027, a média anual da temperatura global próxima à superfície seja de 1,1°C a 1,8°C acima da média registrada entre 1850-1900.
- Existe uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere o recorde de temperatura estabelecido em 2016, quando ocorreu um El Niño excepcionalmente forte.
- É importante ressaltar que o Ártico está experimentando um aquecimento desproporcionalmente alto. Comparado à média registrada entre 1991-2020, espera-se que a anomalia de temperatura durante os próximos cinco invernos prolongados no hemisfério norte seja mais de três vezes maior do que a anomalia média global.