Mulheres Sem Terra protestam em frente à empresa líder do mercado mundial de agrotóxicos
Manifestação na empresa suíça Syngenta inicia jornada de lutas em São Paulo contra pacote do veneno
Por Lays Furtado
Da Página do MST
Na manhã desta segunda-feira (7), mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram protesto contra o uso de agrotóxicos em frente à fábrica da empresa suíça Syngenta, localizada na cidade de Paulínia, há 120km da capital paulista.
Com faixas, grafites e palavras de ordem cerca de 70 Mulheres Sem Terra ocuparam a frente da empresa Syngenta, fabricante e líder mundial do mercado de agrotóxicos, denunciando as mortes e envenenamento que geram o lucro de empresas como a Syngenta.
A ação dá largada às mobilizações da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra 2022 em São Paulo, entre outras ações de denúncia e protesto que ocuparão todas as grandes regiões do país, integrando as mobilizações e atos no campo e cidade, com o lema: “Terra, Trabalho, Direito de Existir. Mulheres em Luta não vão sucumbir!”
“Neste momento as Mulheres Sem Terra estão se mobilizando contra o agronegócio, nós estamos com ações em todos os estados, em especial contra o PL o pacote de veneno que foi aprovado na Câmara dos Deputados, e que vai colocar muito mais veneno no prato da classe trabalhadora” – denuncia Cássia Bechara, dirigenta do Coletivo de Relações Internacionais do MST.
A Syngenta é uma das fabricantes do paraquat, um dos agrotóxicos mais perigosos do mundo, que já foi proibido em mais de 50 países desde 1989, porém ainda é usado no Brasil e está sendo empurrado para a mesa do povo brasileiro. E segue sendo liberado pelo governo Bolsonaro, bem como defendido pela bancada ruralista, que pretende ampliar a liberação de uso de agrotóxicos no país com a aprovação do Projeto de Lei (PL) 6.229/2002, conhecido como o “pacote de veneno”.
Após tramitar 20 anos entre parlamentares, o PL do Pacote de Veneno é alvo das denúncias das Mulheres Sem Terra. O projeto de lei de liberação de mais veneno é prioritário para o atual governo e trata de um conjunto de propostas que flexibilizam o marco regulatório de agrotóxicos, visando aumento da venda e do uso dos venenos. E, consequentemente, ampliando a intoxicação e morte de crianças, trabalhadoras e trabalhadores, causando prejuízos à população e ao ambiente.
Agrotóxico é morte!
A denúncia contra a morte de crianças por agrotóxicos marcou a manifestação das mulheres e mães Sem Terra. Segundo a investigação “Paraquat Papers”, feita pela organização suíça Public Eye, a Syngenta sabe do efeito letal do paraquat desde 1990, mas ainda continua a produzi-lo.
Somente o glifosato, agrotóxico mais usado no Brasil, usado em larga escala na produção de soja transgênica, está associado à morte de 503 crianças, o levantamento foi feito em pesquisa recente, divulgada pelos pesquisadores/as das universidades de Princeton, FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Insper.
Outras pesquisas feitas no país denunciam a presença de glifosato no leite materno de regiões de monocultura de soja transgênica. Em 2018, pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi constatado a contaminação por glifosato ou ácido aminometilfosfônico (Ampa) – ou ambas as substâncias – em 83,4% das amostras obtidas na maternidade do Hospital Regional Dirceu Arcoverde (HRDA), em Uruçuí, próximo da maior região sojicultora do estado.
As Mulheres Sem Terra também denunciam a compra de parlamentares por parte da empresa para que mais agrotóxicos fossem liberados legalmente. O relator da PL do veneno, o deputado Nishimori (PL-PR), que é um dos membros do agronegócio por meio da empresa Mariagro Agrícola Ltda, fez um acordo de R$ 1,5 milhão para quitar uma dívida com a Syngenta. A negociação da dívida foi feita no final de 2020, quando já tramitava na Câmara o Projeto de Lei do PL do Veneno, catorze meses depois o PL é aprovado em votação com regime de urgência impulsionado por ruralistas.