Por Rafaela Andrade Lauriano, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Na década de 1970, as ruas do Bronx, em Nova York, fizeram história ao se tornarem o berço do hip hop. A partir desse momento, jovens começaram a se expressar através desse movimento, que era dividido em cinco elementos: o DJ (abreviação para Disc Jockey), o MC (Mestre de Cerimônias, também chamado de rapper), o grafite e o break. O termo “break” foi criado pelo DJ Kool Herc, referindo-se ao trecho de maior destaque na música.

O break dance não era apenas uma dança; era um reflexo das lutas e da resistência de uma juventude marginalizada. A dança era frequentemente utilizada como forma de protesto contra o poder público e chegou a servir como um importante mediador em conflitos de gangues, que passaram a ser resolvidos em rodas de break ao invés de confrontos violentos. O nome “break” vem da ideia de “quebrar” (to break), representando a maneira que os dançarinos usam para se expressar através de movimentos intensos e criativos.

No Brasil, os bailes black marcaram o início de uma nova onda do hip hop, ganhando força na década de 1980. Os encontros de equipes de hip hop tornaram-se comuns, e as batalhas de break começaram a ocupar espaços como as estações de metrô de São Paulo.

Foto: Red Bull

Décadas após a expansão global do hip hop, o break dance chega às Olimpíadas de Paris 2024, após seu destaque nos Jogos Olímpicos da Juventude de Verão em Buenos Aires, em 2018, a modalidade contará com 32 atletas, sendo 16 B-Boys e 16 B-Girls. Estes termos são utilizados para nomear os dançarinos e dançarinas de break dance, que disputarão as medalhas olímpicas.

O desafio das mulheres no break 

Em entrevista ao Portal Breaking World, Kika Maida, conhecida como a primeira B-Girl brasileira, fala sobre as dificuldades enfrentadas no início da década de 1980, quando não era comum ver mulheres nas rodas de break. Andar no estilo das vestimentas usadas e acompanhada de vários garotos, não era considerado coisa de garota. No começo, elas precisavam adotar uma certa “postura” para serem respeitadas e levadas a sério nas rodas.

Anos depois, Fabiana Balduína, B-Girl de Brasília conhecida como FaBgirl, ainda enxerga as mesmas dificuldades. Ela foi a primeira brasileira a representar o país no Mundial de Break Dance (Battle of The Year) We Bgirlz, na Alemanha. Em entrevista à revista Marie Claire, Fabiana afirmou: “Os homens diziam que mulher não dançava break, e que eu teria que procurar outras estéticas, mesmo dentro do hip-hop, que fossem ‘coisa de menina’. Eu fiquei bastante chateada porque não existia incentivo”. As dificuldades enfrentadas pelas mulheres em diversas competições ainda são presentes, mas isso não impede que elas alcancem seus sonhos e levem seus nomes ao topo das competições. 

Foto: Red Bull

Além de Kika Maida e FaBgirl, outras B-Girls ao redor do mundo têm conquistado espaço em um cenário historicamente dominado por homens. Vários nomes se destacam nas competições de breaking pelo mundo, e um deles é o da japonesa Ami. A B-Girl, que dança desde os 10 anos, estará presente em Paris 2024. Ami se tornou uma das maiores B-Girls do mundo aos 19 anos, ao fazer história e se tornar a primeira vencedora do mundial de break Red Bull BC One, a maior competição de breaking 1×1.

Embora o cenário do breaking tenha sido historicamente dominado por homens, as B-Girls conquistaram seu espaço e têm deixado uma grande marca nesse universo.