Desde segunda, dia 11, cerca de cinco mil mulheres indígenas ocupam a capital federal com programações que vão desde plenárias a debates e shows, com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”.

A programação, que faz parte da 3° Marcha das Mulheres Indígenas, foi organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e conta com a participação de mulheres de diversas etnias, estados e biomas que se deslocaram até Brasília com o objetivo de visibilizar as pautas das mulheres indígenas.

Em entrevista para a mídia NINJA, Juliana Alves, do povo Kanindé, uma das fundadoras da ANMIGA, contou que a ideia da Marcha surgiu quando as mulheres perceberam que, mesmo dentro de eventos indígenas, suas pautas ainda eram deixadas de lado. Deste modo, era importante que elas saíssem às ruas e ocupassem ainda mais espaços.

Brasília (DF), 12/09/2023 – Segundo dia da 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, no Complexo Cultural Funarte. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mulheres Bioma

Falar de povos indígenas é, sem dúvida, falar também de território. Para os povos originários, não há distinção entre seres humanos e natureza, fazemos parte dela e, portanto, cuidar da terra é cuidar de nós mesmos.

“O nosso corpo não se separa do território. O Cerrado é importantíssimo para as mulheres indígenas, a Caatinga também. É dentro do próprio bioma que conseguimos as nossas medicinas tradicionais, o alimento para nossa sobrevivência” explicou Braulina Baniwa, diretora executiva da ANMIGA, em entrevista para Um Planeta Só.

Com isso, o tema “Mulheres Biomas” foi proposto como uma forma de debater as diferentes necessidades que cada bioma apresenta: “A gente traz mulheres biomas para enaltecer os biomas brasileiros e a nossa resistência nesses lugares” nos contou Cristiane Julião, do povo Pankarau, do bioma Caatinga.

Programação

Logo no primeiro dia de evento, as mulheres alcançaram um feito inédito: proposto pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) e construído em conjunto com diversas mulheres, foi entregue e aceito pela câmara um Projeto de Lei escrito totalmente em língua indígena.

Brasília (DF) 11/09/2023 Sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à 3ª Marcha das Mulheres Indígenas. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

O PL trata de uma proposta que versa sobre procedimentos a serem adotados por delegacias e órgãos de acolhimento para atender mulheres indígenas vítimas de violência, além da criação de uma rede de apoio multidisciplinar voltada ao segmento.

Todo o texto do projeto de lei e a sua justificativa foram traduzidos para o Guarani-Kaiowá e para o Xerente.

Além disso, durante a programação do evento ocorreu também o Lançamento da cartilha de violência de gênero; plenárias internacionais com representações indigenas de diferentes países, como Jannie Lasimbang (Malásia), Helena Steenkamp (África), Margaret Lomonyang (Uganda), Rosangela Gonzalez (EUA), Julieta Maquera Llanqui (Peru), dentre outras; diálogos com mulheres negras e quilombolas e articulações para que Mulheres Indígenas possam cada vez mais ocupar espaços na política, com a chamada Bancada do Cocar.

Durante o último dia, pela manhã, as mulheres ocuparam as ruas e saíram em Marcha, pedindo por justiça climática, dizendo não ao Marco Temporal, pelo fim da violência contra mulheres, pela proteção de seus biomas e pela demarcação de terras.

A programação encerra com a entrega de um documento elaborado coletivamente com as principais reivindicações das Mulheres Indígenas, que podem servir de base para a criação de melhores políticas públicas para defender a vida dessas mulheres, seguida de uma noite cultural com artistas indígenas e convidados.