Mulheres de todas as regiões do país se encontraram no dia 18 de novembro na comunidade de Faxinal dos Rosas, no interior do município de Chapecó, em Santa Catarina, para a festa de celebração dos 40 anos de existência do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, em diversos locais dos interiores do país, mulheres agricultoras, pescadoras artesanais, quebradeiras de coco, extrativistas, arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, marisqueiras, posseiras, boias-frias, diaristas, parceiras, sem-terra, acampadas, assentadas, faxineiras, assalariadas rurais, agregadas, indígenas, quilombolas, mulheres do campo, das florestas e das águas e de demais comunidades tradicionais se reuniam com a proposta de organizar movimentos autônomos de mulheres. Era um contexto da modernização tecnológica da e na agricultura com a chegada dos pacotes de venenos e da chamada “revolução verde”, que trouxe grandes rupturas do sistema social (efeito perverso e adverso) para as mulheres e as famílias camponesas, afetando a vida em diferentes dimensões no campo. 

Envolvidas em todas as lutas camponesas, da resistência à ditadura à reorganização dos sindicatos rurais progressistas e à reforma agrária, as mulheres percebiam que precisavam de um espaço de autonomia de decisões para que as pautas diretamente ligadas aos seus direitos também tivessem espaço nos debates. E aquelas sementes de organização, os diversos movimentos, articulações e espaços autônomos que foram se construindo em cada região resistiram e vingaram. Já deram muitos frutos e construíram um movimento que, hoje, é protagonista das lutas das mulheres camponesas.

A data do marco histórico da fundação escolhida pelo Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) é o 1º de maio de 1983. O MMC chega aos seus 40 anos neste 2023, organizado em 16 estados do país, resultados das sementes plantadas naqueles anos 1980 e das lutas anteriores, das ligas camponesas e de tantas mulheres do campo, das águas e das florestas que ousaram enfrentar as violências, o capitalismo, o machismo, o patriarcado, o racismo e todas as opressões em cada momento da história. 

Desde o início de 2023 foram realizados encontros nos estados para estudar a história do movimento. No dia 18 de novembro mulheres camponesas de todas as regiões do país, unidas pelo lema MMC 40 anos: existimos porque lutamos, celebraram os frutos das lutas e projetos futuros. 

“Os 40 anos de existência do MMC têm um significado muito importante para nós, mulheres camponesas. Muitas foram as conquistas: os direitos sociais como aposentadoria, salário maternidade, auxílio doença, o SUS, entre outras, que tanto bem têm feito para as mulheres e famílias do campo, assim como para toda a sociedade”, aponta Noeli Welter Taborda, da direção nacional do MMC. 

Ela acrescenta que todo o processo de luta pelos direitos garantiu às mulheres camponesas ter documentos, uma profissão reconhecida, o acesso à previdência social e a serem sujeitas ativa na história do país e do mundo. Para além das conquistas, o MMC constrói as bases para um projeto de sociedade e de agricultura camponesa, popular e feminista através do feminismo camponês popular, da produção de alimentos saudáveis e diversificados, das sementes crioulas, das plantas medicinais, tornando os quintais produtivos espaços pedagógicos da agroecologia como modo de vida e caminho para a sociedade. 

“Mas, acima de tudo, temos buscado enfrentar a violência do sistema capitalista opressor em que vivemos, do patriarcado, do machismo, do racismo, da LGBT+fobia, construindo novas relações entre mulheres e homens e de harmonia com a natureza. Através do nosso tripé de organização, de formação e de lutas, seguiremos na construção de uma sociedade justa e digna”, complementa a dirigente do MMC. 

O Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) é hoje um dos principais espaços de construção, prática e reflexão sobre o feminismo camponês popular e está entrelaçado, desde as origens, nas lutas globais do campesinato e de toda a classe trabalhadora através da participação efetiva na construção da Coordenação Latino Americana de Organizações do Campo (CLOC) e da Via Campesina Internacional. 

PROGRAMAÇÃO DA FESTA DOS 40 ANOS DO MMC:

*SÁBADO, 18 DE NOVEMBRO, NA COMUNIDADE DE FAXINAL DOS ROSAS, CHAPECÓ-SC

8h30 – Recepção das caravanas

9h – Mística de abertura

9h40 – Ato político

12h – Abertura da mostra das camponesas

12h30 – Almoço

13h30 – Ciranda Feminista Camponesa Popular, visitas à Associação Pitanga Rosa, ao horto florestal e agrofloresta

16h – Encerramento com música e dança