
Morre Zita Carvalhosa, produtora cultural e fundadora do Kinoforum, aos 65 anos
Produtora e curadora foi responsável por fortalecer o cinema independente brasileiro e abrir espaço para novos talentos ao longo de quatro décadas
Zita Carvalhosa, uma das figuras mais influentes na história do curta-metragem brasileiro, morreu nesta terça-feira (22), aos 65 anos, em São Paulo. A causa da morte não foi oficialmente divulgada, mas amigos e colegas informaram que ela enfrentava um câncer. O velório será aberto ao público nesta quarta-feira (23), das 10h às 16h, na Cinemateca Brasileira.
Produtora cultural, curadora, formadora e idealizadora de projetos audiovisuais transformadores, Zita deixa um legado incontornável para o cinema brasileiro. Foi ela quem fundou, em 1989, o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo – Kinoforum, a maior vitrine do curta no Brasil e uma das mais respeitadas do mundo. Em 35 anos de atuação à frente do evento, Zita fez do festival uma plataforma internacional de intercâmbio entre realizadores, curadores e programadores.
Em julho deste ano, Zita comemorava o número recorde de mais de três mil títulos inscritos para a 36ª edição do festival, prevista para agosto. Foi o cineasta Francisco César Filho, amigo próximo e também integrante da Kinoforum, quem anunciou publicamente sua partida nas redes sociais.
Além do festival, Zita presidiu a Associação Cultural Kinoforum, organização que desde 2001 realiza oficinas de formação audiovisual em regiões periféricas da cidade de São Paulo, especialmente voltadas para jovens. Sua atuação foi marcada por uma atenção constante à diversidade e à renovação do audiovisual brasileiro.
Zita nasceu em São Paulo em 1961 e se formou em cinema pela Universidade Paris III, na França. Fundou em 1983 a Superfilmes, produtora voltada ao cinema independente e com foco em filmes dirigidos por mulheres e por novos talentos. Entre as obras produzidas estão Carvão, de Carolina Markowicz; Tinnitus e Obra, de Gregório Graziosi; A Casa de Alice, de Chico Teixeira; O Cineasta da Selva, de Aurélio Michiles; Tônica Dominante, de Lina Chamie, entre outros.
Na década de 1980, Zita também foi curadora do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), onde ajudou a consolidar o espaço como referência nacional em memória e audiovisual, sempre com olhar sensível e cuidadoso à produção independente.
Nas redes sociais, o impacto de sua morte mobilizou profissionais de todas as gerações. O diretor do festival É Tudo Verdade, Amir Labaki, escreveu: “Zita Carvalhosa portava sempre algo de primaveril, para a vida dos próximos e para o cinema brasileiro. Catalisar jovens talentos foi seu maior e raro dom”.
A cineasta Carolina Markowicz, que teve seu primeiro longa produzido por Zita, também publicou uma homenagem: “Até hoje ouço internamente seus ensinamentos no meio das loucuras da vida do cinema. O cinema e todos nós sentiremos sua falta, querida Zita”.
Instituições como o Ministério da Cultura e a Spcine também divulgaram notas de pesar, destacando sua importância histórica e o papel que teve na construção de políticas para o setor. “Zita foi uma das vozes essenciais para a criação da Spcine”, afirmou a empresa pública, ressaltando sua atuação no comitê consultivo e seu comprometimento com a diversidade.
Zita era casada, tinha uma filha e dois netos. Parte de uma geração que transformou o cinema brasileiro nos bastidores, ela partiu como viveu: discreta, ativa e generosa, deixando um rastro de afeto e de trabalho coletivo que continuará a reverberar.