Em 04 de novembro celebramos o Dia da Favela. No Brasil, ela tem muitos nomes (quebrada, gueto, vila, comunidade…). No entanto, uma coisa une esse espaço tão multifacetado: a solidariedade. Como diz uma canção de autoria do meu amigo Pedro Rocha, o Pedro do Borel, “Quem vem no morro para conhecer a realidade da comunidade, de gente que rala pra sobreviver”.

Favela é lugar do papo reto, o que eu chamo de “ética favelada”, aquela que legitima e garante a vida. Esse lugar das contradições (o que não constitui um privilégio só da favela), das políticas públicas marcadas pela descontinuidade, escassez e da precariedade em quase todas as situações.

É o lugar da autoconstrução e dos arranjos coletivos que se organizam, produzem soluções e tecnologias. Isso tudo faz da favela esse lugar único. Sua influência está em toda parte e alcança o conjunto da sociedade. Aqui no Rio de Janeiro, a favela é parte constituinte e constitutiva da cidade, impossível pensar a cidade sem ela.

Ela é parte do imaginário do Brasil (do Funk ao Cinema), não há mais lugar para pensar o Brasil, pensar o futuro e, principalmente, o Rio de Janeiro sem que a favela esteja e seja uma das grandes chaves para a construção de uma sociedade mais igualitária, social e economicamente. É preciso garantir que a juventude, ou melhor, as juventudes faveladas e todos os seus habitantes sejam vistos para além dos estigmas.

As pessoas que constroem as favelas cotidianamente são cheias de esperança, de força, da força necessária para manutenção da vida, e da esperança em um futuro sem cerceamento de liberdades, violência constante, controle e discriminação. O estigma enraizado na sociedade brasileira demanda dos habitantes das favelas muita fé na vida para se manterem altivos, apesar de tudo.

Uma antiga liderança do Borel, já falecida, a querida Valdenir Castilho, a “Valda do Borel”, falava sempre da sua experiência de olhar pela janela de sua casa e enxergar, todos os dias, a morte e a vida descerem e subirem o morro de mãos dadas. É desse lugar de muitos olhares e sentimentos, de muitas cores e talentos, de festa e de luto, de onde parem-se filhos e filhas para o mundo sem saber ao certo como será. Mas sem jamais perder esperança de dias melhores.

Foi nesse lugar que, durante a pandemia de Covid-19, vimos as juventudes se organizarem para garantir ajuda humanitária, material de higiene e até trabalhar duramente na higienização de cada canto das favelas por todo Brasil. Por tudo isso, o 4 de novembro é tão significativo e tão importante para nós: é dia de celebrar a autoconstrução, a criatividade, a potência, o desejo de viver, a alegria, a resistência, a solidariedade e a esperança no futuro. É como diz o poeta Arlindo Cruz:

Meu nome é favela

É do povo do gueto a minha raiz, becos e vielas

Eu encanto e canto uma história feliz

De humildade verdadeira

Gente simples de primeira

Salve ela, meu nome qual é?

Meu nome é favela

É do povo do gueto a minha raiz, becos e vielas

Eu encanto e canto uma história feliz

De humildade verdadeira

Gente simples de primeira.

Salve a favela!

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