Por Jhessyka L. P. Fernandes

A edição dos Jogos da XXXIII Olimpíada é sediada em Paris, capital francesa que ocupa o 23º lugar no ranking mundial de Produto Interno Bruto (PIB) e 28º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). No entanto, colocações altas como as da França não oferecem nenhuma imunidade contra as recentes tragédias climáticas que vêm ocorrendo em todo o planeta, tendo previsão de aumento tanto em escala quanto em ocorrência. Cidades inteiras podem ser devastadas, sendo necessários meses ou até anos para recuperação total. 

As consequências são ainda maiores quando atingem localidades que possuem poucos recursos de sobrevivência no pós desastre, limitando o acesso a alimentos, água potável, energia elétrica e internet. O esporte vem muito depois nessa lista de prioridades. As localidades com capitais que sediaram as cinco olimpíadas mais recentes – França, Japão, Brasil, Grã-Bretanha e China – estão recorrentemente sendo prejudicados pelos fenômenos devastadores das mudanças climáticas. 

FRANÇA

Um bombeiro cria fogo tático em combate a incêndios florestais consequentes de onda de calor na França (17 de julho de 2022). Foto: REUTERS/Sarah Meyssonnier

Em 2022, a França assistiu aos incêndios que atingiram o norte do país e que, mesmo sem mortos ou feridos, causaram devastação em dezenas de milhares de hectares às florestas. Chamadas de “maior canteiro nacional” pelo presidente francês Emmanuel Macron em entrevista ao jornal Le Parisien, a perda da fauna e da flora na destruição foi profundamente lamentada pelas populações diretamente prejudicadas pelos incêndios. 

No mesmo ano, o país também sofreu tanto com o verão mais quente quanto com o inverno mais seco em mais de 50 anos. Macron já havia reconhecido, em 2021, a urgência na adoção de ações governamentais mais rígidas para conter as mudanças climáticas, influenciando nas discussões da COP26.

Em março deste ano, a França teve que lidar com enchentes resultantes de fortes tempestades e chuvas. O temporal, que assolou outros países da Europa, como Itália, Alemanha e Eslovénia, atingiu em cheio o leste francês, inundou casas e deixou 50 estradas sem possibilidade de tráfego. 

JAPÃO

Uma visão aérea mostra construções destruídas causadas por uma enchente em Murakami, Niigata (2 de agosto de 2022). Foto: Kyodo/REUTEURS

O país, com o segundo maior PIB e o 5º maior IDH de toda a ásia, vem sendo afetado por eventos climáticos alarmantes. Em 2022, houve números recordes de precipitação de neve em todo o país, causando a morte de 17 pessoas e 90 feridos. O Japão vem percebendo o aumento de ocorrências destoantes nos últimos anos, como tufões de maior intensidade, prejuízos na pesca decorrentes do aquecimento dos oceanos e precipitações de neve e chuva. 

Em 2023, chuvas fortíssimas deixaram pelo menos 6 mortos em todo o país, com números de precipitação acima de 400mm em apenas 24h só na ilha de Kyushu. Deixando também desaparecidos e provocando deslizamentos de terra, o país de 125,1 milhões de habitantes enfrenta possibilidades de aumentos desses mesmos números nos anos seguintes.

Em meados de julho do mesmo ano, o país viu a temperatura atingir níveis recordes, chegando a 39,7ºC em algumas regiões, o que obrigou o governo a emitir alertas de insolação. Com a hospitalização de milhares de pessoas pelas fortes temperaturas, algumas províncias do país vivenciaram calor próximo à máxima histórica de 41,1ºC. Os eventos causaram alarme também na utilização de eletricidade: com o calor sufocante e o aumento de aparelhos para apaziguar as altas temperaturas, o governo temeu que o país não conseguisse suprir energia suficiente para a população, podendo prejudicar o funcionamento de serviços essenciais. 

BRASIL

Seca no Amazonas. – Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

2023 foi um ano histórico para a Amazônia: a seca na bacia do rio Amazonas reduziu o volume dos rios afluentes em níveis mínimos, considerando mais de 120 anos de medição, tendo seca completa em alguns trechos. Algumas populações ribeirinhas ficaram completamente isoladas, sem acesso a comida, água potável e atendimento médico. 

No primeiro semestre deste ano, o Brasil viu temperaturas acima do normal, causando várias ondas de calor extremo e alerta para riscos severos na saúde das populações afetadas. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) emitiu alerta em maio para riscos severos na saúde do trabalhador. Com as regiões sudeste, sul e centro oeste sendo afetadas, os riscos de radiação ultravioleta e doenças transmitidas por vetores também aumentaram, o que pode causar alta procura da população por centros de saúde e dificultar o acesso ao atendimento devido à superlotação. 

No mesmo período, o país presenciou um número alarmante de precipitação no Rio Grande do Sul, causando prejuízos em mais de 95% de suas cidades. Em balanço da Defesa Civil de RS publicado em 15 de maio, foram totalizados 149 mortos e 108 desaparecidos. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas e 11.427 animais foram resgatados. A região ainda teme novas chuvas enquanto tenta se recuperar do desastre anterior. 

GRÃ BRETANHA

Pessoas se cobrindo do sol na Millennium Bridge durante onda de calor, em Londres, Inglaterra (18 de julho de 2022). Foto: REUTERS/Maja Smialkowska/File photo

Assim como nos outros países, o ano de 2022 também foi o mais quente na ilha da Grã Bretanha. Atingindo temperaturas recorde de 40,3ºC, a previsão é que os anos futuros sejam ainda mais quentes, tornando 2022 relativamente mais agradável. Com o calor, os países também vivenciaram uma seca prolongada, causando incêndios e até mudanças na fauna e flora.

Neste ano, a ilha enfrentou fortes chuvas e alagamentos, contabilizando mortes, cortes de energia, problemas de transportes e outros danos materiais. Foi ativado alerta severo de inundação no centro da Inglaterra e mais de 300 alertas de inundação foram emitidos em outras regiões. 

CHINA

Pedestres atravessam a rua em um dia quente, durante alerta laranja para onda de calor em Pequim, China (16 de junho de 2023). Foto: REUTEURS/Florence Lo/File Photo

2023 foi intenso e com eventos climáticos desastrosos: foi o ano mais quente já registrado no país Chinês, com temperaturas acima dos 36ºC por 27 dias seguidos em Pequim. Em Xinjiang, região do hemisfério norte, foram registrados 52,2ºC, a maior temperatura já notificada no país. Cientistas preveem que os mesmos eventos se repitam ao menos uma vez a cada cinco anos, podendo até aumentar a frequência caso a situação climática global não tenha melhoras. 

Também no ano passado, as tempestades mais intensas da década deixaram ao menos 78 mortos e vários desaparecidos em Pequim e regiões próximas, causando alagamentos e deixando bairros isolados de diversos serviços essenciais. 100 mil pessoas foram retiradas das áreas de risco. A capital registrou 260 mm de precipitações em 2 dias. Várias regiões ficaram em alerta devido aos riscos de inundações repentinas. 

As inundações foram resultados do Tufão Doksuri, que chegou a passar anteriormente pela ilha de Taiwan e pelas Filipinas. Foram registrados prejuízos de mais de 10 bilhões de reais. Mais estaria por vir: ainda se recuperando do tufão anterior, a menos de um mês, o país foi atingido por outro Tufão, o Haikui, com ventos de até 80km/h. Foram registrados mais de 300mm em menos de 24h.

A LUTA PELA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE É DE TODOS

Com danos chegando em bilhões de reais em algumas regiões, a rotina de quem é atingido pelas catástrofes ambientais fica completamente paralisada: as principais preocupações são a sobrevivência e a busca pela normalidade. Dessa forma, é consequente que não só o amplo acesso à prática esportiva nesses mesmos locais afetados como também a possibilidade de se tornar e permanecer atleta ao longo da carreira tenham menores chances de existir e de encontrar sucesso, diminuindo ainda mais a lacuna de oportunidades e acesso aos jogos olímpicos.

Portanto, a comunidade esportiva precisa também estar aliada à causa ambiental. Num futuro onde a previsão é o aumento de catástrofes decorrentes de mudanças climáticas, as chances de aumento nos investimentos em ações ligadas à prática e profissionalização do esporte são ainda menores, já que os gastos de reparo aos danos devem seguir uma tendência oposta.