Milhares de pessoas saíram às ruas em 30 cidades francesas e em Bruxelas no sábado (14) para protestar contra a violência sexista. A manifestação acontece em apoio a Gisèle Pelicot, mulher cujo marido está sendo julgado por tê-la drogado durante onze anos para que outros homens pudessem estuprá-la enquanto ele filmava. Há 92 estupros comprovados e 51 homens foram identificados. Destes, 35 admitiram ser os autores das agressões sexuais. Apenas três deles pediram desculpas. A maioria dos tribunais pede uma condenação por “estupro agravado”, um crime punível com 20 anos de prisão.

A manifestação ocorreu entre proclamações e cartazes com os slogans “Somos todos Gisèle”, “Vemos você como estuprador, acreditamos em você como vítima”, “51 bons pais”, em referência aos estupradores que estão sendo julgados, e “a vergonha deve mudar de lado”, lema que Gisèle Pelicot adotou para comparecer publicamente ao julgamento e renunciar ao anonimato a que tem direito.

Os protestos de sábado foram convocados por grupos feministas. O manifesto final visava à solidariedade com a vítima da cidade de Mazan, mas também se posicionava contra o sistema patriarcal que permite episódios extremos como o que está sendo julgado: “Não só os culpamos por serem estupradores, mas também por permanecerem calados”.

Em declarações à agência AP, Magali Lafourcade, magistrada e secretária-geral da Comissão Consultiva Nacional dos Direitos Humanos, sublinhou que estudos indicam que nove em cada dez mulheres vítimas de estupro na França não denunciam e, quando o fazem, cerca de 80 % dos casos são arquivados.

O julgamento de Mazan começou em 4 de setembro. No dia 5 de setembro, Gisèle Pelicot testemunhou pela primeira vez no depoimento. O depoimento de Dominique estava marcado para 10 de setembro, e ele alegou problemas médicos para não comparecer, como também fez no dia seguinte. A previsão é que dia 16, a audiência oral prossiga com o depoimento de Dominique Pelicot.