
Migrar é ancestral, o deslocamento é colonial
Em tempos de crise climática, Futuros Indígenas propõe princípios narrativos para mudar o discurso hegemônico sobre deslocamento, transformando as narrativas das fronteiras impostas.
Por Futuros Indígenas
Embarcamos nesta jornada para narrar as histórias de migração e deslocamento desde a perspectiva dos povos indígenas de Milpamérica.
Em tempos de crise climática, propomos princípios narrativos para transformar o discurso hegemônico sobre o deslocamento.
Junte-se a nós para difundir as ações que acompanham esta narrativa.

Princípios
A partir de uma escuta das histórias existentes sobre migração e deslocamento nos meios hegemônicos, mas também em nossas comunidades, propomos cinco princípios narrativos para narrar desde a dignidade e apontar os responsáveis pela violência em nossos territórios.
A migração é ancestral
Reconhecemo-nos como povos em movimento, que desde tempos ancestrais transitam e caminham por diferentes terras, muito antes das fronteiras impostas. Convidamos a recuperar as memórias de migração de nossos territórios e a nos perguntarmos: quais eram as condições que permitiam a reprodução da vida após o movimento? Em que a migração ancestral difere do deslocamento atual vivido por nossos povos?
O deslocamento é colonial
É preciso distinguir a migração ancestral do deslocamento forçado por violências sistêmicas que causam a crise climática e fazem parte de um ciclo de colonização dos povos e territórios. As causas desta crise são estruturais, os sintomas são climáticos. Não é por acaso que os povos com maiores taxas de deslocamento são também aqueles que abrigam importantes recursos naturais, minerais ou petrolíferos.
Centrar a relação com a terra
O acaparamento da terra, a mudança no uso do solo e o abandono da agricultura são processos que nos empurram para a migração em condições extremas, pois as pessoas que migram enfrentam a falta de água e temperaturas extremas. Estamos sendo despojados da relação que criamos com a terra para responder ao modelo econômico e social imposto. A recuperação da terra e a defesa do território são alternativas ao deslocamento climático.
Somos territórios deslocados
O deslocamento climático é coletivo e afeta ecossistemas inteiros: plantas, animais, comunidades humanas e não humanas. As borboletas monarca mudam suas rotas devido aos monocultivos, os rios secam por causa das mineradoras. As sementes nativas desaparecem pelos transgênicos.
Nomear os responsáveis
É necessário mudar a narrativa da mobilidade climática como um fenômeno natural para falar dos aspectos estruturais. Precisamos nomear e identificar os responsáveis pela crise climática e pelo deslocamento nos territórios. Empresas extrativistas, como mineradoras, indústrias de refrigerantes e agroindústrias; estados repressores que criminalizam a defesa territorial; o narcotráfico que controla rotas e territórios. Nomeemos os responsáveis e coloquemos no centro as vozes de quem vive o deslocamento.