Mês da Consciência Negra: jornalistas formam comissão pioneira em produção colaborativa
“O que antes era uma exceção, hoje se torna uma tendência, refletindo a diversidade da sociedade em que vivemos”, afirmou o jornalista Edsoul
Por Cley Medeiros
Em um cenário de transformações significativas, o jornalismo está testemunhando uma notável mudança de rota, com o aumento ainda tímido, mas continuamente expressivo da participação de pessoas negras em apresentações de telejornais e posições estratégicas, se comparado a última década. Na região sul, as jornalistas Cris Gomes, Carol Fernandes e o jornalista Edsoul são exemplos desse cenário de crescimento.
A equipe formada pelos jornalistas foi responsável por montar uma comissão composta por 10 profissionais negros, que coordenaram as produções relacionadas sobre o mês da Consciência Negra.
“Um movimento que vai além de simples representatividade, mas que se traduz em uma verdadeira revolução na forma como as histórias são contadas e quem as conta”, afirmou o jornalista e apresentador da NSC TV, Edsoul. “O que antes era uma exceção, hoje se torna uma tendência, refletindo a diversidade da sociedade em que vivemos”, completou.
Essa mudança não é apenas quantitativa, mas também qualitativa. A produção colaborativa e integrada desses profissionais permitiu que conteúdos fossem disseminados em diversas mídias, ultrapassando os limites tradicionais da TV.
No Brasil, a desigualdade racial se reflete de maneira contundente nos bastidores da imprensa, revela um estudo recente intitulado “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”. Os resultados, divulgados em 17 de novembro de 2021, apontam para disparidades significativas entre jornalistas brancos e negros em termos de oportunidades e ascensão profissional.
Cenário desafiador
Segundo o levantamento realizado por Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto Corda e I’MAX, 98% dos jornalistas que se autodeclaram pretos ou pardos afirmam que enfrentam maiores dificuldades em suas carreiras em comparação com seus colegas brancos. O estudo, conduzido em três etapas, incluiu a aplicação de questionários, entrevistas telefônicas e análises aprofundadas das experiências de jornalistas negros.
Um ponto de destaque é a disparidade entre a composição racial da população brasileira e a representação na imprensa. Enquanto a PNAD/IBGE de 2019 aponta que 56,20% da população é composta por pessoas negras, apenas 20,10% dos profissionais de imprensa se autodeclararam pretos ou pardos. Em contraste, a expressiva maioria (77,60%) dos jornalistas se autodeclarou branca.
O estudo também destaca a sub-representação de jornalistas negros em cargos de liderança. Entre os profissionais brancos, 61,8% ocupam cargos gerenciais nas redações, enquanto os jornalistas negros são maioria (60,2%) em funções operacionais, como repórteres, redatores e produtores. Além disso, a presença de jornalistas negros em cargos de gerência é consideravelmente escassa.