As conversas indicam que Nigri, conhecido como um dos empresários mais próximos a Bolsonaro, acionou Aras ao saber que estava sob ameaça de investigação

Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil

Novas revelações colocam em foco a Procuradoria-Geral da República (PGR), envolta em uma polêmica que aponta para uma suposta ação de proteção a Meyer Nigri, proprietário da construtora Tecnisa e figura próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) sugerem que a cúpula da PGR teria agido para evitar uma investigação contra Nigri, em resposta a um pedido feito pelo próprio empresário por meio de mensagens de WhatsApp dirigidas ao chefe da PGR, Augusto Aras.

As conversas indicam que Nigri, conhecido como um dos empresários mais próximos a Bolsonaro, acionou Aras ao saber que estava sob ameaça de investigação por suposta disseminação de mensagens de caráter golpista. O pedido de investigação partiu do senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), baseando-se em informações divulgadas pelo site “Metrópoles”.

Em uma resposta que levanta questionamentos sobre a imparcialidade da PGR, Aras informou a Nigri que iria localizar o processo e, de maneira antecipada, emitiu sua opinião ao empresário: “Trata-se de mais um abuso do fulano”.

Meyer Nigri (18/08/2022 – 07:14:20): Bom dia
Meyer Nigri (18/08/2022 – 07:14:33): Pode falar?
Meyer Nigri (18/08/2022 – 07:20:53): “Exclusivo: Empresários bolsonaristas defendem golpe de Estado caso Lula seja eleito; veja zaps” (encaminha link de reportagem)
Meyer Nigri (18/08/2022 – 07:20:53): “Randolfe pede ao STF que PGR avalie prisão de empresários que defenderam golpe” (encaminha link de reportagem)
Meyer Nigri (18/08/2022 – 08:11:23): Que achou?
Augusto Aras (18/08/2022 – 08:12:14): Vou localizar o expediente, pois se trata de mais um abuso do fulano
Meyer Nigri (18/08/2022 – 08:12:23): Concordo

A defesa de Nigri refutou qualquer alegação de interferência no pedido de inquérito, afirmando que o empresário apenas havia “consultado a opinião” de Aras sobre a investigação que estava em andamento na PGR. No entanto, tais revelações suscitaram dúvidas quanto à independência do órgão e à relação entre poderosos empresários e as instituições de justiça do país.

Este novo escândalo ocorre três semanas antes da PGR apresentar um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para arquivar a investigação contra Nigri e outros empresários, bem como anular uma operação de busca e apreensão já conduzida pela Polícia Federal sob ordem do ministro Alexandre de Moraes.