Meninas negras de até 13 anos são as maiores vítimas de estupro no Brasil, e dentro de casa
Esse número alarmante equivale a um estupro a cada seis minutos no país
Meninas negras de até 13 anos são as principais vítimas de estupro no Brasil, conforme revela o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2023, foram registrados 83.988 casos de estupro, representando um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior. Esse número alarmante equivale a um estupro a cada seis minutos no país.
Violência ocorre dentro de casa
Do total de estupros, 76% correspondem ao crime de estupro de vulnerável, que ocorre quando a vítima tem menos de 14 anos ou é incapaz de consentir por qualquer motivo, como deficiência ou enfermidade. As principais vítimas são meninas negras de até 13 anos, com o seguinte perfil:
- 88,2% são do sexo feminino
- 61,6% têm até 13 anos
- 52,2% são negras
- 76% eram vulneráveis
A violência ocorre majoritariamente dentro de casa – em 61,7% dos casos, o estupro foi registrado na residência da vítima. A via pública é o segundo local mais frequente, com 12,9% dos casos. Entre as vítimas de até 13 anos, 64% foram agredidas por familiares e 22,4% por conhecidos.
Crescimento de Todas as Formas de Violência contra Mulheres
Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que “todas as formas de violência contra a mulher cresceram”. A subnotificação em alguns estados, que não classificam adequadamente os feminicídios, ainda agrava a situação. As mulheres enfrentam mais agressões, ameaças, violência psicológica, stalking, e procuram mais a Justiça e a polícia para obter medidas protetivas, o que resulta em um aumento das mortes femininas.
Além dos estupros, houve um aumento em todas as modalidades de violência contra mulheres em 2023:
- Feminicídio – aumento de 0,8%
- Tentativa de feminicídio – aumento de 7,1%
- Agressões decorrentes de violência doméstica – aumento de 9,8%
- Stalking – aumento de 34,5%
- Importunação sexual – aumento de 48,7%
- Tentativas de homicídio – aumento de 9,2%
- Violência psicológica – aumento de 33,8%
- Das 1.467 vítimas de feminicídio, 63,6% eram negras, 71,1% tinham entre 18 e 44 anos, e 64,3% foram mortas em casa. Em 63% dos casos, o assassino foi o parceiro, em 21,2% o ex-parceiro, e em 8,7% um familiar.
Em 2023, foram concedidas 540.255 medidas protetivas de urgência, um aumento de 26,7% em relação ao ano anterior.
Violência contra crianças e adolescentes em ascensão
Também houve um aumento significativo nas violências contra crianças e adolescentes:
- Abandono de incapaz – aumento de 22%
- Abandono material – aumento de 34%
- Pornografia infanto-juvenil – aumento de 42,6%
- Exploração sexual infantil – aumento de 24,1%
- Subtração de crianças e adolescentes – aumento de 28,4%
- Das 29.469 vítimas de maus-tratos no país, 60,9% tinham até 9 anos.
Tendência contrária nas mortes violentas intencionais
O aumento das mortes de mulheres vai na contramão dos números nacionais. Em 2023, o país registrou 46.328 mortes violentas intencionais, uma redução de 3,4% em relação a 2022. No entanto, as mortes violentas intencionais cresceram em seis estados: Amapá (39,8%), Mato Grosso (8,1%), Pernambuco (6,2%), Mato Grosso do Sul (6,2%), Minas Gerais (3,7%) e Alagoas (1,4%).
Casos de racismo em alta
O anuário também mostrou um aumento expressivo nos casos de racismo, com um crescimento de 127% em 2023, registrando 11.610 boletins de ocorrência em comparação aos 5.100 do ano anterior.