
Melânia Luz: a primeira mulher negra a representar o Brasil nos Jogos Olímpicos
Ela dividia a vida entre o atletismo e o trabalho no laboratório
Por Andressa Simões para NINJA Esporte Clube
Melânia Luz dos Santos foi a primeira mulher negra a representar a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos. Aconteceu em 1948, na edição de Londres. Era a volta das Olímpiadas depois de uma pausa de 12 anos, por conta da Segunda Guerra Mundial.
O Brasil foi com uma delegação formada por 81 atletas, sendo 11 mulheres, cinco a mais em relação a anterior, em Berlim 1936. Dentre elas, estava Melânia Luz, do atletismo, que entraria para a história como a primeira negra a representar o Brasil em uma edição de Olimpíadas.
Melânia nasceu em São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Apesar do nascimento ter sido em 17 de maio de 1928, ela foi registrada apenas no dia 1º de junho. A atleta era são-paulina ferrenha, numa paixão que veio diretamente dos pais: Maria Aparecida da Luz, dona de casa, e João Batista da Luz, policial militar.
A pioneira conheceu o atletismo na sede do São Paulo, quando foi assistir a uma competição, ainda jovem. Lá, recebeu o convite para começar a treinar e se apaixonou pelo esporte. Seu técnico era o alemão Dietrich Gerner, que também treinava Adhemar Ferreira dos Santos, o primeiro bicampeão olímpico do Brasil.

Aos 20 anos, Melânia chegou ao auge de sua carreira: Londres 1948. Os resultados na pista não foram tão expressivos. Em sua prova principal, os 200m rasos, nem chegou à final. Para compensar, no revezamento 4×100, bateu o recorde sul-americano junto com a equipe brasileira.
Em Campeonatos Sul-Americanos, a atleta conquistou um bronze nos 100m e uma prata nos 200m em Santiago 1947, e uma prata também nos 200m em Lima 1949. Pelo clube, o São Paulo, sua principal conquista foi o título dos 200m rasos e o vice dos 100m no Brasileiro de 1946.
Enquanto treinava no São Paulo, Melânia recebia bolsa para estudar em um colégio particular. Porém, quando se formou, começou a trabalhar e teve que dividir o tempo com os estudos. Durante cerca de trinta anos, trabalhou como técnica de laboratório, enquanto mantinha a rotina de atleta, já que o salário do atletismo não era suficiente. O dia a dia puxado não permitiu que a atleta mantivesse um alto nível por muitos anos e, assim, não se classificou para os Jogos de 1952.
Para além dos resultados, a participação de Melânia nos Jogos Olímpicos ficou marcada pelo símbolo que representou, sendo relembrada até hoje como um marco no movimento olímpico brasileiro.
A atleta teve uma carreira curta, mas através do esporte teve as experiências mais enriquecedoras de sua vida. Inclusive, foi por meio dele que conheceu seu marido, Waldemir Osório dos Santos, atleta do Vasco. Juntos, tiveram uma filha, Maria Emília.
Os dois ficaram casados por 29 anos, contagem interrompida pela morte de Waldemir. Após isso, Melânia voltou a competir, na categoria máster. Chegou, inclusive, a disputar um Mundial, em 1997, na África do Sul.
Em 2007, Melânia foi diagnosticada com Alzheimer. Em 21 de junho de 2016, faleceu. Foi homenageada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) seis anos depois, quando entrou para o Hall da Fama.