Por Débora Anunciação

“In this business, until you’re known as a monster you’re not a star (Nesta indústria, até você ser conhecido como monstro, você não é uma estrela)”. A citação da atriz americana Bette Davis (1908-1989), escolhida para abrir a exibição do filme, resume as próximas quase duas horas de MaXXXine (2024), que estreia em 11 de julho nos cinemas brasileiros.

A sequência de X – A Marca da Morte (2022) e Pearl (2022) é uma carta de amor aos anos 1980, ao cinema de horror e a Hollywood. O desfecho da trilogia dirigida e escrita por Ti West é permeado por referências cinematográficas, hits atemporais, mortes criativas e muito sangue.

A inglesa Mia Goth, filha de mãe brasileira e neta da atriz Maria Gladys, protagoniza os três filmes, na pele de duas personagens diferentes – em performances potentes o suficiente para garantir seu lugar no pódio das maiores scream queens (rainhas do grito) do cinema. Goth também atua como produtora executiva.

Recheado de estrelas, o elenco reúne nomes como Elizabeth Debicki, Halsey, Kevin Bacon, Lily Collins, Giancarlo Esposito e Moses Sumney.

O longa revela a origem de Maxine Minx – da infância reprimida pelo pai autoritário e religioso ao estrelato em filmes adultos. A história começa logo após os eventos sangrentos de “X”, e acompanha a jornada da única sobrevivente do massacre na fazenda em busca da fama em Hollywood. A tão sonhada carreira, porém, é colocada em perigo quando um assassino começa a perseguir as jovens estrelas.

A produção já foi consagrada pelo gênio do terror, o escritor Stephen King (It, 1986), (Carrie 1974), (O Iluminado, 1977). Na quinta-feira, 4 de julho, o autor elogiou MaXXXine em sua conta no X (antigo Twitter): “fantástico”.

Super-heroína do terror

Maxine Minx não é a típica scream queen dos filmes de terror americanos – portanto, não espere vê-la fugir de um assassino pelas escadas quando deveria sair pela porta (como já dizia Sidney Prescott – Pânico/1996); investigando um barulho suspeito no escuro; ou tropeçando no vento apenas para cair quando o assassino se aproxima.

Maxine é inteligente, forte, uma espécie de super-heroína do terror, e não vai deixar nada nem ninguém a impedir de realizar o sonho de se tornar uma grande estrela. Ela acredita, e até externaliza, que as “mocinhas” devem salvar a si mesmas.

Ambiciosa, ela é extremamente confiante em suas habilidades devido ao seu sucesso em filmes adultos. Não poderia ser diferente, tendo em vista seu lema: “eu não vou aceitar uma vida que eu não mereço”.

Cidade dos Anjos

Eternizado no hall da fama dos slashers pela atuação em “Sexta-Feira 13” (1980), Kevin Bacon vive um detetive particular de moral dúbia. A interação entre Bacon e Goth é um dos pontos altos da trama e, surpreendentemente, arranca algumas risadas.

Outros destaques são as participações de Giancarlo Esposito (Breaking Bad) e Lily Collins (Emily em Paris). O veterano interpreta Teddy Night, advogado-agente e quase figura paterna para a protagonista; enquanto Collins dá vida a espirituosa Molly Bennett, predecessora de Maxine nas gravações de “O Puritano”.

Mas um dos personagens mais relevantes talvez seja a própria Los Angeles. Em 1985, a “Cidade dos Anjos”, como é conhecida, enfrentava o ápice da pornografia, dos filmes de terror, do heavy metal, de protestos pela moralidade e o medo do Night Stalker (o serial killer Richard Ramirez). Tudo isso serve de pano de fundo para a trama.

O criterioso designer de produção Jason Kisvardy consegue transportar o espectador para esse auge de Hollywood, na era do VHS e do lançamento de grandes clássicos como “Halloween” (1978), “A Hora do Pesadelo” (1984) e “Prom Night” (1980), entre outros.

É um filme moderno e contemporâneo, vestido de um clássico do horror, dentro de uma cápsula do tempo. A mistura cria algo único, original e muito divertido de se ver no cinema da atualidade.

Ambicioso

Tudo era maior nos anos 1980, e isso fica explícito em cada detalhe do filme: cabelo, maquiagem, figurino, iluminação… Com mais recursos que os precursores, e um orçamento maior, MaXXXine é um filme ambicioso.

A produção, filmada em 30 dias, chegou a fechar uma das ruas mais movimentadas de Hollywood por quatro noites subsequentes – um feito para poucos. As cenas escuras, essenciais para a construção de um bom suspense, contrastam com looks neon, cabelos volumosos e maquiagens coloridas, no maior estilo dos tempos da brilhantina.

Os bastidores do processo de filmagem também ganham destaque no roteiro, o que é sempre interessante. As cenas nos estúdios da Universal não são apenas essenciais para a narrativa de uma aspirante à atriz deslumbrada com Hollywood, como homenageiam a cinematografia da época.

É o caso de um dos maiores títulos do gênero: Psicose (1961), de Alfred Hitchcock. A obra é referenciada repetidas vezes, seja na edição de certa cena com faca, seja na aparição da casa de Norman Bates e do Bates Motel.

A verdade é que, no contexto de “Pearl, X, Maxxine”, quem vence a “batalha”, no fim, são os fãs do horror. É um filme bom para qualquer espectador, mas, sem dúvidas, é ainda melhor para os amantes do gênero.