Massive Attack especial para a Mídia NINJA sobre show histórico: ” É improvável que algo assim se repita”
Grupo pioneiro do gênero Trip Hop faz show com povos indígenas e irmãos Cavalera em São Paulo durante a COP 30.
O Massive Attack volta a São Paulo mais de uma década depois de sua última apresentação para um show histórico. Chamada A RESPOSTA SOMOS NÓS, a apresentação acontece exclusivamente no dia 13 de novembro, e tem abertura dos irmãos Max e Iggor Cavalera, que vão tocar o icônico Chaos A.D.
Nome consagrado na música internacional e uma das bandas com maior dedicação para causas sociais na indústria atualmente, a banda inglesa participa desta iniciativa que apoia e dá visibilidade aos esforços dos povos indígenas do Brasil e do G9 da Amazônia (organizações indígenas como COIAB, APIB e de mais países amazônicos) em alcançar justiça climática, reconhecimento e proteção imediata das terras indígenas no país. O show é uma iniciativa produzida pela 30e.
Formado em Bristol, na Inglaterra, por Daddy G, Andrew Vowles, Adrian Thaws e Robert Del Naja, o Massive Attack é considerado pioneiro do gênero Trip Hop, fusão do Hip-Hop com a música eletrônica, Soul, Dub e Jazz. Além dos Cavalera, representantes de povos indígenas também sobem ao palco enquanto líderes mundiais, corporações globais e o movimento climático em geral chegam ao Brasil para a cúpula da COP30, sediada na região amazônica de Belém.
Del Naja (3D) respondeu algumas perguntas enviadas pela Mídia NINJA sobre o show, sobre o legado da banda e o histórico de ativismo e luta por justiça social.
Já se passaram quinze anos desde a última vez que o Massive Attack se apresentou no Brasil. O que você espera encontrar de diferente desta vez, em 2025? Passamos por uma década e meia bastante intensa por aqui. O que você conseguiu observar ou perceber sobre o país durante esse período?
Assistimos horrorizados à catástrofe Bolsonaro, mas também identificamos esta catástrofe como uma onda geral de sentimentos autoritários, nacionalistas e racistas que varreu o discurso político; vimos isso e estamos vendo isso no Reino Unido também, é claro. Em momentos de perigo geracional como este, não há alternativa realmente que não a organização, resistência e aversão aos ataques às nossas comunidades não brancas, como forma de nos distrair do inevitável fracasso do consumo de massa e do capitalismo neoliberal em proporcionar padrões de vida aceitáveis e a recuperação do planeta.
Temos que tentar encontrar maneiras melhores de ilustrar o fato de que as figuras políticas que tentam nos fixar em noções distorcidas de divisão racial ou negação climática sem sentido estão quase sempre trabalhando em conjunto com identidades comerciais que realmente criaram os principais problemas que enfrentamos e se beneficiariam financeiramente com mais caos, mais divisão, mais vigilância em massa, mais guerra, mais capitalismo carcerário e mais extração de combustíveis fósseis. Em sua identidade conjunta, eles são, em última análise, contra a vida, contra a humanidade.
Ao longo de sua carreira, o Massive Attack assumiu posições firmes contra a guerra, as políticas de vigilância e a desigualdade. Como vocês conseguem equilibrar ativismo e arte — mantendo a mensagem poderosa sem que ela se torne moralista e a música politicamente engajada sem perder sua profundidade emocional?
Em síntese, com certeza em nossos shows dá pra observar um eco emocional da música se fundindo com as condições políticas, sociais e humanas pelas colagens e montagens visuais, para criar uma experiência que, de alguma forma, pelo menos, possa conduzir a cabeça e o coração simultaneamente. A terceira parte dessa equação é, naturalmente, a consciência de quem nos vê e ouve, nossos fãs, que podem estar combinando e transformando sua própria memória emocional de nossa música com imaginações pessoais ou angústias relacionadas a provocações políticas ou sociais. Há algo nessa síntese que se mostra vívida e estimulante tanto como experiência individual quanto coletiva.
Aqui no Brasil, as lutas pela democracia, pelo direito à terra e pela preservação ambiental muitas vezes dependem das vozes dos artistas — pessoas que apoiam movimentos e líderes na linha de frente, mas também usam suas plataformas para aumentar a conscientização sobre causas que, de outra forma, poderiam ser ignoradas. Como você vê essa dinâmica, e ela se identifica com a maneira como você se envolveu com o ativismo por meio da música?
Essa abordagem tem sido tão central em nossa carreira artística que é muito difícil pensar sobre ela de forma analítica. O poeta Allen Ginsberg disse que “a vivacidade se autoseleciona”, o que, em nosso contexto, se aplica com a mesma força à resistência ativa contra injustiças sociais ou ambientais ou crimes contra a humanidade, assim como à criação ou produção de expressões musicais ou visuais. Há uma urgência e responsabilidade maiores no primeiro caso, obviamente, mas o segundo — a identidade artística — pode oferecer uma espécie de plataforma pública para impulsionar uma urgência maior.
Este ano, vocês se apresentarão ao lado de comunidades indígenas durante a conferência climática das Nações Unidas no Brasil. Como é dar vida a esse espetáculo nesse contexto específico?
Pode parecer clichê, mas é simplesmente uma honra. Estamos aqui para ouvir, aprender e contribuir da maneira que pudermos para os objetivos do movimento indígena, para uma maior conscientização sobre o papel fundamental que eles devem desempenhar e para a necessidade imediata de proteger suas terras, direitos e culturas.
E que tipo de legado vocês esperam construir por meio dessa colaboração com os povos indígenas? De que maneiras vocês sentem que a trajetória do Massive Attack se conecta com as lutas e histórias deles?
Não há comparação possível entre a nossa história e as reservas morais, ambientais e antropológicas quase infinitas dessas comunidades e movimentos. Acima de tudo, queremos comunicar nossa solidariedade a eles e nosso total respeito e admiração por sua integridade e dedicação. Estamos aqui para prestar atenção neles, para absorver e contribuir de todas as formas que pudermos, pelo tempo que pudermos, para que suas demandas sejam respeitadas e atendidas.
Trabalhar com os irmãos Cavalera representa um encontro de mundos musicais muito distintos. Como foi o processo criativo dessa colaboração — e que tipo de som ou mensagem vocês esperam transmitir através dela?
De certa forma, nos sentimos “acolhidos” por Max e Iggor; são as perspectivas deles sobre este momento, em seu país e na Amazônia em geral, que tornaram essa colaboração uma realidade. Este show pode ser visto como musicalmente díspar ou até mesmo um choque total, mas a corrente de “Chaos AD”, que evolui sonora e narrativamente para um pulso de caos social e político, tem certas sinergias com o nosso show ao vivo. É interessante justapor duas experiências sonoras ao vivo distintas — um disco seminal como “Chaos” em sua totalidade e um show do Massive Attack como atração principal, sob o mesmo teto, em uma única noite — convergindo em torno da presença física do vital movimento indígena da Amazônia. É improvável que algo assim se repita!



