Por Patrick Simão, do Além da Arena

Em 2003, uma jovem alagoana de 17 anos, chamada Marta Vieira da Silva, disputava a sua 1ª Copa do Mundo. Agora, 20 anos depois, ela faz a sua despedida do torneio, deixando marcado na história suas 6 bolas de ouro e se tornando a maior referência do futebol feminino brasileiro e mundial.

O legado de Marta é gigante e foi construído rapidamente, logo em sua 2ª Copa do Mundo. Antes, em 2003, ela fez 3 gols, sendo um deles logo em sua estreia, contra a Coreia do Sul. Em 2004 Marta foi para o futebol sueco, onde chegou sendo decisiva pelo Umea na Champions League e, já em 2006, foi eleita a melhor do mundo pela primeira vez.

Em seu auge, Marta mudou o rumo e visibilidade do futebol feminino no Brasil. Em 2007, nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, liderou o Ouro brasileiro, com goleada sobre os Estados Unidos na final, por 5 a 0. Pouco depois, na Copa, Marta deu show e foi a artilheira com 7 gols, sendo 2 na semifinal contra os Estados Unidos.

Foto: FIFA

 

Marta foi a protagonista da campanha que levou o Brasil ao inédito vice-campeonato mundial. Naquela Copa, o Brasil teve uma mobilização nunca vista antes para acompanhar o futebol feminino. A partir daquele momento, houve um começo de estrutura maior no calendário nacional, embora esse processo devesse ter acontecido de maneira mais rápida.

Entre 2006 e 2010, a brasileira foi eleita 5 vezes consecutivas a melhor jogadora do mundo, levando o público para assisti-la pela Seleção Brasileira. Entre 2008 e 2016 o Brasil sediou anualmente um Campeonato Internacional com 4 equipes. O calendário de clubes também começou a ser reforçado, com a entrada do novo Brasileirão em 2013 e da Libertadores, que começou em 2009 com Marta sendo campeã ao lado de Cristiane pelo Santos.

O crescimento e legados do futebol feminino brasileiro tem em Marta a figura central, algo primordial para a consolidação da categoria para o público. Junto com ela, estiveram grandes símbolos como Cristiane e Formiga, que construíram uma geração histórica por quase duas décadas.

Para além disso, Marta é símbolo e representatividade em diversos aspectos. Ela foi e é ídola das jogadoras da Seleção atual, com muitas delas se inspirando em Marta para tentar a carreira profissional. A imagem de Marta se tornou importante para naturalizar mulheres jogando futebol, algo que foi proibido no Brasil entre 1941 e 1979. Apesar da ainda grande resistência e machismo, havia mais possibilidades de incentivo (que ainda precisam ser bem maiores).

Marta luta pela igualdade entre gêneros e, na Copa de 2019, um ano após se tornar a melhor do mundo pela 6ª vez, recusou patrocínios em protesto à disparidade de ganhos entre mulheres e homens no esporte. Ela usou nas chuteiras um símbolo da igualdade entre gêneros. Marta segue nessa luta, utilizando da sua imagem para fortes posicionamentos como uma mulher, negra, lésbica e nordestina, que chegou ao topo.

Marta com a chuteira sem patrocínios, protestando pela igualdade entre gêneros no esporte (Foto: Getty Images)

Agora, a brasileira chega à sua 6ª Copa do Mundo como a maior artilheira da história das Copas, entre mulheres e homens, com 17 gols. Considerada a maior de todos os tempos, Marta ultrapassou todas as probabilidades e se tornou um legado em todos os aspectos da sua carreira e da sua vida. Marta um dia se despedirá dos gramados, mas seguirá sendo a referência e a lenda.

Foto: Lucy Nicholson/Reuters