Por Eduarda Tavares e Jhessyka L. P. Fernandes, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Marivana Oliveira da Nóbrega, paratleta de 34 anos, finalizou nesta quinta (5) a sua quarta jornada paralímpica na carreira. Única alagoana nos jogos, ela pertence à classe F35, que abrange atletas com paralisia cerebral. A especialista em arremesso de peso representou seu estado natal e o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris no atletismo.

Com duas medalhas paralímpicas em sua trajetória – prata nos Jogos Paralímpicos de Tóquio (2020) e bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio (2016), Marivana terminou sua participação em oitavo lugar.

Nascendo na vida e no esporte

Nascida em Maceió, capital de Alagoas, em 1990, Marivana veio ao mundo prematuramente, com apenas seis meses de gestação, e recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral ao nascer – condição que afetou os seus membros inferiores. Depois de passar por cirurgias, ela começou a andar aos 7 anos.

A história da alagoana no esporte se iniciou em 2006 quando, aos 16 anos, conheceu o paratletismo durante uma sessão de fisioterapia na Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal). Até então, ela não imaginava se tornar o que é hoje: uma atleta de destaque com alto rendimento e medalhas conquistadas.  

Marivana relata que foi apresentada ao esporte paralímpico por um funcionário da Adefal, na época em que frequentava o local, fazendo hidroterapia para recuperar as forças nos membros inferiores. O funcionário em questão era Sandro Alves de Santana, piscineiro que também auxiliava os paratletas. No primeiro contato com o esporte, por ser ainda muito nova, ela não tinha pretensão de seguir carreira. Após adiar por um ano, Marivana iniciou sua carreira em 2008 e desde então não parou mais. 

Sandro, também atleta, tem grande carinho e respeito por Marivana e afirma que, sempre que pode, acompanha as disputas dos colegas, muitas vezes acordando até de madrugada e se emocionando com a representatividade deles. Esses atletas não levam apenas o nome do estado de Alagoas para outras regiões e países, mas também representam toda a comunidade que se une contra as adversidades causadas pela falta de estrutura.

Foto: Fernando Maia/MPIX/CPB

Falta de investimento

Apesar de sentir muito orgulho de ser alagoana e de representar o nordeste, Mary, como é chamada pelos mais próximos, relembra que no início não foi tão fácil devido ao baixo investimento de Alagoas em esportes paralímpicos.

Ela relata que não recebia apoio para equipamento pessoal, para treino e muito menos para viver exclusivamente do esporte. Inclusive, ouviu de políticos locais inúmeras promessas, que nunca foram cumpridas. Como alagoana, Marivana vê o paratletismo do seu estado natal estagnado, chegando a afirmar que está até pior do que antes.

“Existe a pista, existe a estrutura, mas não há o treinador, o especialista. Sou alagoana e, se no meu estado natal tivesse mais estrutura, eu não estaria em lugar nenhum no mundo, estaria em Alagoas”. Morando no Rio de Janeiro desde 2011, Mary lamenta que, para dar continuidade à sua carreira, teve que sair de Alagoas, se distanciar de sua família e começar tudo do zero em um lugar novo, devido à ausência de políticas voltadas ao esporte paralímpico. 

Associados à Adefal sendo treinados no arremesso de peso. | Foto: Reprodução/Adefal

Diego Calado, atual coordenador de esportes da Adefal, afirma que a falta de estrutura de treinamento e a ausência de apoio para competições nacionais são os maiores empecilhos enfrentados pelos paratletas. O coordenador menciona o edital Yohansson Nascimento, iniciativa do Governo de Alagoas que oferece oportunidades a entidades esportivas para promover o esporte no estado, mas reconhece que ainda há muito a ser feito.

Segundo Diego, alguns atletas paralímpicos de Alagoas tiveram sua iniciação no esporte por meio de ações ofertadas pela Adefal – abertas a toda a comunidade com deficiência. Para participar e iniciar os treinos, o atleta tem que preencher os requisitos mínimos de cada sistema de classificação funcional das modalidades existentes.

O sonho da maternidade

Aos 33 anos, mais especificamente um ano e oito meses atrás, Marivana trouxe a pequena Maria Alice ao mundo. Em 2023, tornou-se mãe solo após perder seu esposo, quando sua filha possuía apenas 7 meses. 

Vídeo: Reprodução/Mary Oliveira

“O meu maior sonho, na verdade, era ser mãe e infelizmente eu não posso hoje em dia tá com ela perto de mim. Abdiquei de estar perto dela para poder tentar a vaga para a Paralimpíada de Paris. Minha filha é um sonho realizado, sabe? Ela é um elo que lembrará para sempre o pai dela. Um elo de amor, um elo de sentimento verdadeiro”

Atualmente, a mãe da atleta, Ivana Maria, é a pessoa que cuida da criança e a longa distância já dura mais de 4 meses. Mary retornará para perto de sua família quando acabarem as Paralimpíadas de Paris e espera conquistar mais medalhas na próxima edição, em Los Angeles. 

A disparidade entre as competições

Questionada sobre a diferença entre Olimpíadas e Paralimpíadas, a atleta lamenta o vão que existe na valorização das duas competições, mesmo o Brasil sendo uma potência paralímpica e já tendo ultrapassado a marca de sessenta medalhas nas Paralimpíadas de Paris.

Para Marivana, falta o respeito ao paratleta como atleta de alto rendimento. Além disso, destaca que percebe uma diferença gigantesca na cobertura, prejudicando não só o acesso da torcida como também a visibilidade da audiência nos saldos positivos do país. 

Foto: Ale Cabral/CPB

No aguardo pelos avanços de um futuro otimista, a paratleta percebe que a evolução foi enorme nos últimos anos, com tendência a crescer ainda mais.

Já no preparo para os Jogos de Los Angeles, em 2028, Marivana Oliveira anseia por poder levar todo o seu talento para o Brasil conseguir expandir toda a sua potência, tanto para fora como para dentro do país, onde todas as cidades possam contribuir para o esporte equitativamente.