Marina de Oliveira Menezes, a jovem guerreira do jiu-jitsu que luta no tatâmi e por visibilidade
O esporte como referência a jovens talentos no Brasil e a dificuldade da dedicação a uma modalidade não olímpica.
Por Laura Dozza Reis e Talita Affonso Gaspar, para a cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube
“O ano é 2032 e mais uma Olimpíada está prestes a começar, a delegação brasileira será representada por um número recorde de atletas na história dos Jogos, a 4ª maior delegação. O alto investimento realizado desde a base nos mais diferentes esportes, proporcionou o crescimento de praticantes e claro, o alcance de muitos índices olímpicos”.
Adoraríamos que esse fosse o cenário para nossos futuros atletas, especialmente aqueles no início da prática esportiva, prestes a estrear nos Jogos Olímpicos. Melhor ainda seria tornar isso realidade já em LA2028. No entanto, ainda há muito a ser feito, e o trabalho precisa começar imediatamente, de forma constante e consistente.
Os Jogos Olímpicos são um grande palco desde a sua criação, encantando jovens e adultos como nos filmes de super-heróis. Principalmente as crianças, que veem atletas, como elas, realizando feitos extraordinários, se inspiram e sonham em chegar lá. Mas, quão árduo é o caminho até esse sonho?
Durante a cobertura de Paris 2024, nos deparamos com a história dessa garotinha de apenas 9 anos, mas com garra e determinação de uma campeã:
Marina de Oliveira Menezes, conhecida como Mamá, tem um grande sonho: tornar-se uma campeã de jiu-jitsu
Apesar do jiu-jitsu não ser uma modalidade olímpica, Mamá se inspira também no judô para aperfeiçoar suas técnicas na luta que tanto ama. Dividindo-se entre a escola e o treino, ela chega a praticar três vezes ao dia. Introduzida ao esporte por seu pai como uma forma de construir autoestima diante do bullying que sofria na escola, o que começou como uma brincadeira se transformou em um amor pelo esporte e um verdadeiro estilo de vida.
Conversamos com a Marina e o seu pai, Rodrigo, via e-mail, para entender os desafios da família em manter a paixão da menina acesa. Eles buscam constantemente apoios e patrocínios para a atleta poder participar das competições, principalmente as que acontecem mais longe do estado de Sergipe, onde moram.
As dificuldades enfrentadas por Marina, como a falta de patrocínio e apoio aos esportes de base, são um obstáculo significativo. Aos 9 anos, ela não é elegível para o bolsa-atleta, por exemplo. Histórias como a de Marina e Rebeca Andrade, que dependia da ajuda dos vizinhos para conseguir transporte até os treinos, nos lembram da necessidade urgente de reformular o investimento esportivo desde cedo. Com o apoio necessário, talentos como Mamá poderiam um dia chegar às competições internacionais, assim como sua inspiração, a atleta Gabi Pessenha.
“Sempre gostei muito de futebol, até já treinei em escolinha. Atleta que admiro no futebol é o Cristiano Ronaldo e no jiu-jitsu é a Gabi Pessenha. Que me inspiro muito nela, um exemplo de superação que ganhou o mundo”, contou a atleta-mirim.
Marina começou a competir em 2023 e, devido à falta de atletas em sua categoria (leve – até 39,3 kg) nos campeonatos regionais, nos quais mais participa, precisa subir duas categorias para lutar. Ela encara isso com naturalidade, acreditando que os desafios a fortalecem. Mesmo enfrentando competidores até 8 kg mais pesados, continua a conquistar vitórias.
Além do jiu-jitsu, Marina também pratica judô e planeja começar a competir nessa modalidade. Ela pretende manter as duas lutas em seu currículo, afirmando: “E poder participar de grandes campeonatos no futuro.”
Sobre as recentes competições, Mamá se orgulha ao dizer: “O mês de julho foi um mês de muitas vitórias; participei de quatro campeonatos e conquistei o ouro em todos.” Ela gostaria de participar de um campeonato internacional kids que ocorrerá em setembro em Barueri, São Paulo, mas precisa de ajuda financeira para ir. “Pretendo participar, mas dependo de apoio financeiro devido às despesas de viagem”, explica. Ela complementa que sua preparação atual inclui três treinos de judô por semana e cerca de 10 de jiu-jitsu.
Além dos desafios esportivos, Marina ainda é uma criança em idade escolar. Seu pai, Rodrigo, conta que ela sempre foi responsável com os estudos e que há, sim, uma cobrança para que se saia bem nas atividades escolares. No entanto, em relação aos campeonatos, ele afirma não exigir resultados, apenas deseja que ela dê o seu melhor.
Além do apoio da família, Marina também encontrou na escola outra rede de apoio para continuar as suas lutas. Por treinar diariamente, ela conta que precisa equilibrar bem os horários e separa as manhãs para as atividades escolares e à tarde para ir à escola.
“Tenho muito apoio da escola quando preciso faltar para participar de campeonatos distantes, eles me liberam e dão suporte para realizar provas e tarefas que eu venha perder devido aos campeonatos.”
Para um atleta alcançar o nível de elite, é necessário mais do que talento e dedicação; o apoio financeiro é crucial. Os custos com inscrições em campeonatos, deslocamento, hospedagem e materiais específicos podem ser um obstáculo significativo. Esses custos muitas vezes impedem que crianças talentosas ou em desenvolvimento continuem treinando e competindo a longo prazo.
Atualmente, esta é a realidade de muitos atletas que já participam de grandes competições – na Olimpíada de Tóquio, por exemplo, 42% não tinham patrocínio – e de muitos tantos outros que ainda sonham em chegar lá.
Marina tem se empenhado arduamente na busca por apoios e patrocínios, lutando diariamente para contar sua história. Ela utiliza suas redes sociais e um mídia-kit enviado às empresas para divulgar seu trabalho e atrair suporte.
“No momento, temos um apoio que arca com as inscrições dos campeonatos, mas as demais despesas são por conta do meu pai” Despesas essas que incluem passagens aéreas e hospedagens, “A ajuda parcial desses custos já ajudava bastante”, contou Rodrigo.
Inclusive, foi assim que a história dessa lutadora chegou até nós:
“Conheci o Ninja Esporte Clube através das matérias das olimpíadas, achei que seria interessante eu divulgar a minha história e conseguir obter maior visibilidade, me ajudando a manter o meu sonho de ser uma grande campeã, vi que era um canal gigante comecei a mandar mensagens para alguns colaboradores.”
Marina, a garotinha de 9 anos de Sergipe, não apenas sonha em lutar nos maiores campeonatos de jiu-jitsu e se tornar campeã mundial, como também deseja ir além.
“Através do esporte, quero ajudar muitas pessoas a vencer, assim usado, na vida, e como pessoa, desejo conseguir ser policial, é meu maior sonho”.
Remunerar nossos atletas é essencial para mantê-los motivados e focados no ciclo olímpico. No entanto, é crucial também prestar atenção aos jovens cheios de sonhos e talentos. O Brasil precisa olhar com mais atenção para a base do esporte e da educação, que, aliás, andam de mãos dadas.