Maria Lenk: Pioneira no esporte sul-americano e no direito das mulheres brasileiras
Maria Lenk é símbolo de quebra de paradigmas no esporte brasileiro feminino
Por Patrick Simão, Além da Arena
Maria Lenk foi um nome e um capítulo histórico do esporte feminino, brasileiro e sul-americano. Ela foi pioneira ao ser a primeira mulher sul-americana a disputar uma Olimpíada, em 1932, aos 17 anos de idade.
Maria Lenk nasceu em São Paulo, no dia 15 de janeiro de 1915, e começou a nadar devido a uma pneumonia que sofria durante sua infância. Suas primeiras braçadas foram no Rio Tietê, que na época era recreativo e não-poluído. Durante a adolescência ela foi se destacando e, aos 16 anos, já era a principal nadadora do Brasil. Entre 1932 e 1935, venceu quatro edições seguidas da Travessia de São Paulo a Nado.
Em 1932, Maria disputou os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos. Estar naquela Olimpíada já era um feito que rompia probabilidades: ela tinha pneumonia na infância e aos 17 anos era a melhor nadadora do país. Além disso, foi a primeira mulher sul-americana a disputar uma Olimpíada, enfrentando resistências da sociedade, que na época associava o esporte olímpico somente aos homens.
Outra dificuldade foram as limitações financeiras que a delegação brasileira precisou enfrentar na viagem, devido à forte crise mundial de 1930. Maria Lenk, com 17 anos, foi semifinalista olímpica nos 200 metros peito.
Sua presença foi histórica e um marco para as mulheres na sociedade brasileira. O fato dela estar em uma Olimpíada convergiu com uma grande conquista: o direito das mulheres ao voto, em 1932. Maria foi o marco da inserção feminina no esporte brasileira e também esteve presente na Olimpíada de 1936, dessa vez ao lado de outras cinco mulheres. Nos Jogos de Berlim, na Alemanha, ela foi a primeira mulher a utilizar o nado borboleta.
Pioneira também no âmbito esportivo, Maria viveu seu auge no fim dos anos 30. Em 1939, foi a única mulher sul-americana a participar de uma excursão nos Estados Unidos, onde foi dominante. No mesmo ano, quebrou dois recordes mundiais, nos 200 e 400 metros do nado peito.
Havia uma grande chance de medalha em 1940. Naquele ano, ela poderia se tornar a primeira mulher brasileira medalhista olímpica (feito que só aconteceu 56 anos depois). No entanto, esse sonho não pôde acontecer, pois a Olimpíada daquele ano foi cancelada, em decorrência do início da 2ª Guerra Mundial.
Maria Lenk viveu os anos seguintes nos Estados Unidos e se formou em Educação Física. Com poucas oportunidades de competir, devido à Guerra, se aposentou aos 27 anos. Após formada, ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física (atual UFRJ), onde foi a primeira mulher sul-americana a dirigir uma faculdade.
Apesar de tantos feitos, Maria ainda sofria resistência por ser uma mulher que praticava esportes e não se dedicada à “procriação”, em um pensamento que ainda é reproduzido por grupos da sociedade brasileira, mesmo 80 anos depois. Maria Lenk foi uma referência e pioneira para a natação brasileira e para as mulheres sul-americanas no esporte. Ela foi muito importante para as conquistas dos direitos das mulheres no Brasil. Maria Lenk se tornou um símbolo da inserção feminina em muitos espaços do esporte e da sociedade.
Ela antecipou conquistas que voltariam a se repetir apenas décadas depois. Nos anos 60, o Brasil teve Maria Esther Bueno se tornando a melhor tenista do mundo e Aída dos Santos protagonista no atletismo, sendo a primeira brasileira em uma final olímpica. As primeiras medalhas olímpicas das mulheres brasileiras foram no Vôlei de Praia em 1996, quando, em final brasileira, Jacqueline Silva e Sandra Pires foram ouro, enquanto Mônica Rodrigues e Adriana Samuel ficaram com a prata.