Por Priscila Oliveira, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Nascida na periferia de Osasco, Maria Angélica nunca deixou que suas raízes a limitassem. “Tenho muito orgulho de dizer de onde vim, para mostrar que nós da periferia, quando temos chances de apoio, podemos chegar onde quisermos”, afirma com convicção. Desde cedo, o esporte foi um caminho de superação e transformação.

Angélica é formada em Educação Física pela Universidade Bandeirantes em São Paulo,  na unidade de Osasco. Desde pequena sempre se envolveu com os esportes, na escola ou nas ruas do seu bairro. Ao crescer ela sabia o que queria e por isso entrou para a faculdade de educação física. 

Foi durante a faculdade de educação física que Angélica foi apresentada à canoagem, em um projeto social de remo e canoagem na represa Guarapiranga. “Eu já conhecia o esporte, mas foi no estágio que tive contato direto e me apaixonei pela modalidade”, lembra ela. A partir daí, a jornada foi intensa e marcada por cursos e especializações, até conquistar o espaço como técnica.

Desafios de ser mulher no esporte

Historicamente, as mulheres foram colocadas em posições de submissão, enfrentando desigualdade em suas funções na sociedade. No entanto, o feminismo abriu caminho para que elas ocupassem seus espaços com autonomia e força. Nos esportes, essa luta sempre foi árdua, com a predominância masculina moldando o cenário. No entanto, as mulheres têm quebrado tabus, mostrando que estão igualmente capacitadas para competir, torcer, arbitrar e se envolver em todas as esferas esportivas.

Em 2016, Maria Angélica recebeu um convite para integrar a equipe técnica da paracanoagem, uma área ainda mais desafiadora. “Eu conhecia a canoagem, mas a paracanoagem era um universo novo. Foi um grande aprendizado”, diz. Além de ser uma mulher em um espaço dominado por homens, ela também enfrentou a desconfiança por nunca ter sido atleta. “Muitos acham que você só pode ser um bom técnico se for ex-atleta, mas eu sou a prova de que isso não é necessário”, declara.

Foto: Divulgação / CBCa

Conquistas no alto rendimento

O marco mais importante de sua carreira veio em 2021, com a convocação para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. “Ser a primeira mulher técnica da equipe paralímpica de canoagem é um orgulho imenso”, conta emocionada. A participação nos Jogos foi a coroação de uma jornada que envolveu dedicação e superação, tanto pessoal quanto profissional.

Maria Angélica destaca a importância de dar visibilidade às mulheres no esporte, especialmente às mulheres negras. “É essencial que as histórias de mulheres como eu, que vêm da periferia, sejam contadas, para que outras meninas saibam que é possível”, afirma. Ela também lembra o pioneirismo de Valdenice Conceição, a primeira mulher negra atleta da canoagem nos Jogos Paralímpicos.

Foto: Divulgação CBCa

Paris e além 

Apesar de não ter sido convocada para as Olimpíadas de Paris, Maria Angélica segue dedicada ao seu trabalho. “Continuo torcendo pelos nossos atletas e contribuindo como técnica, sempre buscando a evolução do esporte e o reconhecimento do trabalho das mulheres no meio esportivo”, afirma.

Angélica não apenas fez história, mas abriu caminho para que outras mulheres a sigam. Sua trajetória é um testemunho do poder da resiliência e da oportunidade. Enquanto segue lapidando novos talentos no núcleo de Itajaí, Santa Catarina, ela se firma como uma referência, mostrando que, com apoio e dedicação, não há barreiras que não possam ser superadas.