Vocês viram “Macho-Rey”, esse clipe sensacional do Ian Ramil?

Jocosa alegoria da masculinidade tóxica que vem sendo debatida, talvez menos pelos homens do que pelas mulheres, sempre mais sensíveis aos seus efeitos. Bom ver um artista pondo a sua voz e demais habilidades nesse assunto tenebroso do capital machista que, aliás, também vive do ódio à arte.

Talvez os homens nem notem que vivem intoxicados uns pelos outros, na colônia misógina que os alimenta com todo tipo de violência recreativa.

A música joga com a ironia, essa capacidade cada vez mais enfraquecida quando o poder dos fascistas e ressentidos devora corações e mentes. O clima meio “Delicatessen” do clipe, temperado com a aparição da super Eliane Brum como heroína (e parte da letra da música), transforma tudo numa espécie de ensaio, não apenas musical, mas teórico!

É o macho-esteticamente construído, o macho-espantalho de paletó, o macho-canastrão, limítrofe e decorativo babando ao redor do churrasco, o macho-menino que aparece acossado pela família patriarcal para virar homem.

O ciclo vicioso cria um sistema em que a impureza, a podridão, o ranho (alçado à categoria filosófica antiestética para o deleite dos que ainda podem rir) definem o que é um homem.

Machos abjetos são seres de secreções e escatologias? Seria essa a pergunta sobre a qual devemos meditar? O homem na ponta da praia espirra o menino e é espirrado por ele e lembra os melhores momentos de Gombrowics.

A impureza é dialética: ela é também o homem que não quer ser macho apesar dos imperativos que o demandam. O devir messiânico do homem aconteceria ao se expelir o macho? Ou ele nasce mesmo do ranho?

O macho abjeto, cuja ideologia é o machismo, é misto de devorador e devorado, de carnívoro e carne, de vivo e morto. A zumbizada, beberrona e comilona, ri o riso dos carrascos fascistas que se vestem de machos para se capitalizarem na cultura do porno-patriarcapitalismo.

Vejam inteiro no canal do YouTube do artista. A letra da música é do Ian e da Juliana Cortes.