Márcia Malsar: primeira mulher negra paralímpica a conquistar medalhas para o Brasil
Pioneira, determinada, ícone de superação e inspiração, fez história ao ganhar ouro nas Paralimpíadas de 1984.
Por Maruaia de Castro e Marcos Nunes, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Márcia Malsar, ex-atleta paralímpica de atletismo, consagrou-se nas Paralimpíadas de Nova York/Stoke Mandeville em 1984 ao tornar-se a primeira mulher brasileira a subir no pódio em competições paralímpicas. Naquele ano, Márcia nos levou ao lugar mais alto do pódio, conquistando ouro nos 200m rasos, classe C6, e ainda bateu o recorde na prova com o tempo de 34s83.
A participação das atletas brasileiras em uma Paralimpíada aconteceu pela primeira vez em Toronto, em 1976, dezesseis anos após o início das competições. Naquela edição, as únicas representantes do Brasil foram Beatriz Siqueira e Maria Alvares. Infelizmente, na edição de 1980, em Arnhem, a delegação brasileira não contou com a participação de atletas femininas.
Na Paralimpíada de 1984, ao contrário da edição anterior, a delegação brasileira contou com a participação de 6 mulheres, embora esse número fosse inferior ao de 29 homens. O Brasil conquistou um total de 7 medalhas de ouro naquele ano, das quais 5 foram ganhas por mulheres. Além da primeira medalha de ouro do Brasil, Márcia também subiu ao pódio em mais duas ocasiões, com a prata nos 1.000m cross country, classe C6, e o bronze nos 60m rasos, classe C6.
Márcia, uma mulher negra nascida em São Gonçalo, Rio de Janeiro, contraiu sarampo aos 2 anos, que evoluiu para encefalite causando danos cerebrais irreversíveis. Na década de 70, quando Márcia era adolescente, a maioria das pessoas com deficiência não era incentivada a praticar esportes. O apoio governamental para competições e práticas esportivas era ineficiente, e poucas instituições ofereciam suporte adequado para essas pessoas.
Entretanto, diferente do que ocorria com muitas pessoas com deficiência, Márcia recebeu o suporte necessário para se tornar uma atleta de excelência. Sua aptidão e talento para o atletismo foram percebidos pelos profissionais que a acompanhavam e, com o apoio de sua mãe, Maria José, dedicou-se intensivamente aos treinos. Aos 16 anos, começou a treinar na Apae e, em seguida, passou pelo IBMR e pela Andef. Aos 24 anos, conquistou o primeiro ouro para o Brasil nas Paralimpíadas, além de outras duas medalhas
Durante as Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, Márcia foi uma das estrelas convidadas a levar a tocha para acender a pira paraolímpica. No trajeto, ela caiu com a tocha, mas rapidamente se levantou e continuou sua caminhada. O momento, considerado um dos mais emocionantes da abertura dos jogos, foi ovacionado de pé. Márcia em entrevista à Revista Época, descreveu a experiência dizendo: “A vida tem dessas coisas. A gente cai, levanta e continua em frente.”
A história de Márcia Malsar mostra como o passado pode guiar o futuro, alinhando-se ao símbolo Sankofa que nos ensina a aprender com a história. Segundo Mara, irmã de Márcia, à Revista Época – “Ela (Márcia) é uma pessoa independente, determinada e feliz”. Como uma mulher negra que superou o racismo e a misoginia, ela se tornou um símbolo para mulheres no esporte. Sua trajetória inspirou novas atletas e sua determinação na abertura da Paralimpíadas do Rio demonstrou que sucesso exige talento, coragem e resiliência.