O jornalista Marcel Gomes, secretário-executivo da Repórter Brasil, foi o vencedor do Prêmio Goldman de Meio Ambiente, considerado como o “Nobel Verde”. A cerimônia oficial aconteceu nos Estados Unidos. Em edições anteriores, a ministra Marina Silva e a liderança indígena Alessandra Munduruku já foram contempladas.

Uma cobertura de repercussão internacional, conduzida por Gomes, revelou os elos entre redes de supermercados da Europa e dos Estados Unidos com frigoríficos brasileiros abastecidos por pecuaristas autuados por desmatamento ilegal de diferentes biomas, como Amazônia, Cerrado e Pantanal. A reportagem foi publicada pela Repórter Brasil.

Após a publicação, seis grandes grupos varejistas de países como Bélgica, França, Holanda e Reino Unido, que juntos somam mais de US$ 30 bilhões anuais em faturamento, chegaram a suspender a venda de produtos de companhias brasileiras.

Em 15 de dezembro de 2021, seis grandes redes de supermercados europeus (Sainsbury’s no Reino Unido, Albert Heijn e Lidl na Holanda, Carrefour e Delhaize na Bélgica e Auchan na França), comprometeram-se a deixar de vender produtos de carne bovina das empresas investigadas.

Os biomas onde ocorreu a investigação premiada veem crescer o número de violência contra jornalistas que tentam apurar reportagens. Um novo relatório lançado pelo Instituto Vladimir Herzog, intitulado “Fronteiras da Informação: Relatório sobre Jornalismo e Violência na Amazônia”, publicado pela NINJA, revela que, entre 2013 e 2023, foram registrados 230 casos de violência contra jornalistas em nove estados da Amazônia Legal.

De acordo com os dados compilados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o estado do Pará lidera as estatísticas, com 89 casos registrados, seguido pelo Amazonas com 38, Mato Grosso com 31 e Rondônia com 20. No entanto, os números podem ser ainda maiores devido ao medo resultante da violência, que muitas vezes leva à autocensura e subnotificação.

O relatório também destaca a relação entre a violência contra jornalistas e o contexto sociopolítico e ambiental da região, incluindo atividades como garimpo ilegal, exploração madeireira, expansão agrícola descontrolada e narcotráfico. Recentemente, um novo tipo de agressor surgiu na região: os narcogarimpeiros, que representam uma ameaça adicional aos jornalistas que denunciam atividades ilegais.

Para lidar com essa situação, o relatório destaca a importância do Conselho do Observatório Nacional de Violência contra Jornalistas e Comunicadores, formado por 33 entidades da sociedade civil e do Estado.

No entanto, após um ano de sua criação, o conselho enfrenta limitações de estrutura, incluindo falta de pessoal e orçamento insuficiente, o que dificulta suas atividades de monitoramento e apoio às vítimas de violência.