Por Maíra Aragão

De 14 a 17 de agosto, Fama, no Sul de Minas, se transformou em território de cinema e encontros culturais com a realização da 8ª Mostra de Cinema de Fama. O evento exibiu mais de 40 produções nacionais e internacionais, promoveu rodas de conversa e encerrou sua programação com a premiação de filmes que valorizaram originalidade, temas urgentes e inovação estética no cinema.

O grande destaque desta edição foi “Firmina”, da cineasta Izah Neiva (SP), vencedor dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção da Mostra Fama. O filme pauta, com força e sensibilidade, o tema da violência contra a mulher, convidando à reflexão sobre as marcas que nem sempre são visíveis, mas moldam vidas. A obra aborda o apagamento da dor feminina e a urgência de romper o ciclo de violência, provocando o público a repensar a forma como a sociedade encara o tema. Pela intensidade da narrativa e pela forma delicada com que transforma dor em resistência, “Firmina” foi considerado um marco desta edição da Mostra.

Na Mostra Mineira, o prêmio de Melhor Filme foi para “No Início do Mundo”, de Gabriel Marcos (Contagem – MG). A produção conquistou pela originalidade da narrativa, conduzindo uma história que mistura descobertas pessoais e artísticas em uma reflexão poética sobre identidade e criação.

A Menção Honrosa da Mostra Mineira ficou com “Aruê, Jerônimos”, de Matheus José Vieira (Passos – MG), um curta que valoriza a cultura popular mineira e sua força de permanência na memória coletiva.

Na Mostra de Animação Nacional, o prêmio foi para “Kabuki”, de Tiago Minamisawa (SP). Com traços elegantes e inventivos, a animação apresenta temas atuais, como identidade de gênero e a busca pelo próprio eu, explorando visualmente a complexidade das transformações internas.

Já na Mostra Internacional de Animação, o destaque foi “Animetro (Аниметро)”, da russa Natalia Grofpel, obra que surpreende ao criar paralelos entre animais e seres humanos em uma narrativa vibrante. A animação une ritmo e metáforas visuais, traduzindo em imagens a velocidade da vida urbana e seus reflexos na condição humana.

“Aruê, Jerônimos”, de Matheus José Vieira (Passos – MG). Foto: Divulgação
“Aruê, Jerônimos”, de Matheus José Vieira (Passos – MG). Foto: Divulgação
“Kabuki”, de Tiago Minamisawa (SP). Foto: Divulgação
“Animetro (Аниметро)”, da russa Natalia Grofpel. Foto: Divulgação
“No Início do Mundo”, de Gabriel Marcos (Contagem – MG). Foto: Divulgação

A Mostra também prestou homenagem especial ao maestro e compositor Wagner Tiso, um dos maiores nomes da música brasileira e integrante histórico do Clube da Esquina. Aos 80 anos, o artista celebrou a data em Fama com um concerto emocionante ao piano, acompanhado por um quinteto de cordas da Filarmônica de Varginha — um encontro que uniu território, memória e a força da música mineira.

Também foi homenageado o ator Fernando Alves Pinto, reconhecido por sua trajetória versátil, que transita entre o cinema autoral, experimental e popular. Intérprete de personagens marcantes em produções como “Terra Estrangeira”, “Lavoura Arcaica” e “Para Minha Amada Morta”, Fernando é um artista que carrega em sua carreira o compromisso com narrativas densas e afetivas, além de ser uma referência para novas gerações de atores brasileiros.

A terceira homenagem foi dedicada a Pedro Paulo Alves, figura essencial da memória cultural de Fama, idealizador da tradicional encenação da Paixão de Cristo e guardião das artes comunitárias na cidade.

Na sua oitava edição, a Mostra de Fama se consolida como potência cultural do interior mineiro, colocando o Sul de Minas no mapa do audiovisual nacional e internacional. Ao ocupar a praça pública com exibições gratuitas, o festival reafirma que o cinema é um gesto coletivo de memória, pertencimento e transformação.