Pesquisa da Quaest também apontou que, para 46% da população, Campos Neto, presidente do BC, trata juros com ‘interesses políticos’

Foto: Cerca de 20 organizações entre sindicatos, partidos políticos e movimentos populares participaram de ato contra alta taxa de juros

“Não existe nenhuma justificativa. É uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, afirmou Lula durante a posse do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Aluízio Mercadante, no dia 7 de fevereiro.

Exatos sete dias depois, uma pesquisa inédita revelou que para maioria dos brasileiros Lula deve continuar sua luta por uma política de redução de juros. Cerca de 76% da população consultada na pesquisa realizada pela Quaest, apoia declarações de Lula, que coloca pressão no Banco Central para que a taxa de juros caia do patamar de 13,75%.

Conforme o levantamento divulgado nessa terça-feira (14), 16% não concordam com a estratégia, enquanto outros 8% não souberam responder.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Em outra ocasião, o presidente afirmou que o Senado deve analisar a responsabilidade de Campos Neto. “Eu acho que esse cidadão [Campos Neto] que foi indicado pelo Senado tem a possibilidade de maturar, de pensar e saber como é que vai cuidar desse país porque ele tem muita responsabilidade”, afirmou. “A culpa dos juros é do BC. Agora é o Senado que pode trocar o presidente do BC”, disse Lula.

O levantamento também apontou que para 46% das pessoas ouvidas pela Genial/Quaest, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lida com a inflação brasileira “com interesses políticos”, como foi publicado pelo Brasil De Fato.

Para 87% dos que votaram em Lula, o presidente está certo em seu posicionamento. Somente 8% discordam.

A pesquisa também revelou que, entre os brasileiros que recebem até dois salários mínimos, 79% apoiam Lula. Entre aqueles que ganham de dois a cinco salários mínimos, 77% apoiam. Já para 72% das pessoas com investimentos, o presidente também está certo.

Foram ouvidas 2.016 pessoas entre os dias 10 e 13 de fevereiro. O levantamento tem margem de erro de mais ou menos 2,2 pontos percentuais. A pesquisa foi financiada pela Genial Investimentos, corretora de investimentos digitais e controlada pelo banco Genial.

Bancários pedem saída de Campos Neto

Sindicatos e entidades de movimentos sociais realizaram nesta terça-feira (14), em frente ao prédio do Banco Central, no Rio de Janeiro, um protesto contra os altos juros praticados pela gestão de Roberto Campos Neto a frente da instituição e pelo fim da chamada “autonomia” do BC, criada pelo então ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, que tira do governo o controle sobre a política monetária e de juros.

O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio José Ferreira elogiou a unidade dos trabalhadores em defesa da bandeira do combate aos juros, tese que foi defendida pelo presidente Lula e gerou um debate no mercado e na sociedade.

Foto: Bancários Rio

“A política monetária está hoje capturada por uma meia dúzia de bilionários que tem o seu representante no mais alto posto do Banco Central. Eles estão dizendo que o governo tem que ter controle dos gastos porque querem mais dinheiro dos juros para os rentistas. Não estão preocupados com as pessoas que estão dormindo nas ruas, com a falta de moradias e com a miséria. Juros baixos, já. Fora Campos Neto”, destacou Ferreira.

Atos foram registrados em pelo menos dez capitais, entre elas Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo.

Também nessa quarta-feira no salão verde da Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar Contra os Juros Abusivos articulou uma manifestação que pede a convocação de Campos Neto. O deputado-federal Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que a taxa de juros no nível atual afeta a geração de empregos no Brasil.

“O tema dos juros tem sido destaque no debate político e econômico nacional. Nós não concordamos com a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic no patamar de 13,75%, a mais alta taxa de juros reais do mundo. Esse é um tema central para os rumos da economia brasileira, para a geração de empregos e deve ser debatido por toda a sociedade e não somente pelo sistema financeiro”, declarou o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) em entrevista ao Diário do Centro do Mundo.

Economistas lançam manifesto por queda na taxa de juros

Um grupo de economistas e cientistas políticos lançaram, na sexta-feira (10), um manifesto para reduzir a Selic, em claro apoio ao presidente Lula, crítico ferrenho da política adotada pela instituição. Segundo o manifesto, entitulado ‘Taxa de juros para a estabilidade duradoura: Manifesto de economistas para o desenvolvimento do Brasil’, o país não terá condições de se desenvolver com uma taxa de juros que asfixia a atividade econômica.

Sérgio Nobre, presidente da CUT, em ato em Brasília. Foto: Reprodução

“A taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis”, aponta o manifesto, que é assinado pelos economistas Luis Carlos Bresser-Pereira, Leda Paulani, Monica de Bolle, Luis Gonzaga de Mello Belluzzo, Luciano Galvão Coutinho, Nelson Marconi, Antonio Correa de Lacerda, Clélio Campolina, Paulo Nogueira Batista Jr. e Lena Lavinas, entre outros.

“O discurso oficial em sua defesa não encontra nenhuma justificativa seja no cenário internacional ou na teoria econômica e o debate precisa ser arejado pela experiência internacional”, argumentam os economistas, no texto.

“Os economistas signatários deste manifesto declaram publicamente o apoio a uma política que seja capaz de reduzir substancialmente a taxa de juros, propiciando as condições para a retomada do desenvolvimento com estabilidade sustentável”, aponta o documento, em clara concordância com a diretriz defendida pelo presidente Lula.

Sim, o Brasil tem a maior taxa de juros real do mundo

A taxa básica de juros (Selic) brasileira está estagnada em 13,75%, desde junho do ano passado. Na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), a autoridade decidiu pela manutenção da taxa Selic. Assim, o Brasil segue com a maior taxa de juros reais de todo o mundo.

Os juros reais são definidos a partir do desconto da projeção inflacionária para os próximos 12 meses. Nesse sentido, a taxa de juros real do país é de 7,38%. Em relação ao juro nominal, a realidade também não é muito diferente. O ranking mundial foi realizado com base no levantamento realizado pelo Moneyou em parceria com a Infinity Asset Management.

 

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