Maestro: De acusações de antissemitismo à front-runner na categoria de Maquiagem
Para “Maestro”, longa dirigido e estrelado por Bradley Cooper e grande nome da Netflix para a temporada, a primeira reação aos materiais do filme não foram tão positivas.
Por Guilherme Movieira
No próximo domingo (10), acompanharemos a entrega dos Óscares e o fim de mais uma temporada de premiações no cinema. O prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se posiciona nessa data nobre, de ser a última e derradeira premiação, para agregar valor e prestígio à toda a pompa criada para a cerimônia. Mas muito se engana quem imagina que a temporada se resume a isto. As disputas para “melhor filme” começam muito cedo no ano (inclusive já estamos dando os primeiros passos em 2024 com o Festival de Berlim que ocorreu em fevereiro), quando os filmes começam a ser exibidos nos festivais e mostras de cinema e as primeiras repercussões são liberadas para a comunidade cinéfila criar expectativas para os lançamentos comerciais. Ou, ao menos, isso é o que as produtoras esperam que aconteça.
Para “Maestro”, longa dirigido e estrelado por Bradley Cooper e grande nome da Netflix para a temporada, a primeira reação aos materiais do filme não foram tão positivas. Isso porque em agosto de 2023, quando o primeiro teaser da cinebiografia de Leonard Bernstein foi divulgado, começaram a surgir diversos comentários ao nariz do protagonista. As críticas acusavam “Maestro” de jew face, termo que pode ser utilizado para a representação estereotipada de personagens judeus, quando interpretados por atores não-judeus. Cooper teve de ir à público para defender sua “escolha artística”, defendendo em grande parte o uso da prótese com a justificativa de que precisava dessa maquiagem para se enxergar como Bernstein e entregar um melhor trabalho em “Maestro”.
Se considerarmos o argumento do ator de que a prótese foi empregada para causar o impacto da semelhança na tela, podemos lhe dar alguma razão. Olhando para a relação entre atores e atrizes indicados e vencedores do Oscar e o emprego de próteses e maquiagens nos seus filmes, vamos encontrar casos bem interessantes. A partir casos bem semelhantes ao de Cooper, como Ramy Malek em “Bohemian Rhapsody” (vencedor como Melhor Ator em 2019) e Jessica Chastain em “Os Olhos de Tammy Faye (vencedora em 2021), conseguimos entender como o impacto da semelhança com a figura representada (seja Bernstein, Freddie Mercury ou Tammy Faye) pode influir na nossa percepção sobre o trabalho de atuação. Em outros anos, uma maquiagem forte serve a um propósito de aumentar o impacto dramático de uma atuação, como no ano passado, com a vitória de Brendan Fraser por “A Baleia”. Sendo assim, não é de se espantar que Bradley Cooper tenha insistido na prótese para tentar fortalecer a sua campanha para Melhor Ator.
Se com o lançamento do teaser o tiro parecia ter saído pela culatra, hoje, a situação é bem diferente. “Maestro” teve sua defesa bem trabalhada desde o impacto inicial em agosto até janeiro de 2024, quando saíram as indicações ao Oscar. A família de Bernstein, muito envolvida com a proteção da imagem do músico, foi à público defender a prótese. Seus filhos disseram que ele realmente tinha um nariz grande, além disso o próprio Cooper foi a entrevistas falar sobre o tamanho do seu nariz e sobre o trabalho de maquiagem como um todo. Aos poucos, “Maestro” começou a focar seu discurso na maquiagem como importante para a representação do processo de envelhecimento do personagem, deixando um pouco de lado toda a questão de semelhança entre Cooper e Bernstein. O filme estreou com recepções mistas, mas a maquiagem prevaleceu como um dos poucos atributos de “Maestro” que consegue alguma sobrevida na reta final do Oscar. Com sete indicações ao prêmio, hoje parece improvável uma vitória do longa em categorias como Melhor Atriz (disputadíssima entre Emma Stone e Lily Gladstone) ou Melhor Filme (na qual Oppenheimer é esperado para ser premiado), mas em Melhor Penteado e Maquiagem, “Maestro” pode até despontar como favorito.
Sem o vencedor do Critics Choice Awards na categoria (“Barbie”), o longa de Bradley Cooper precisa superar a maquiagem fantasiosa de Pobres Criaturas (prestigiada com o prêmio da Academia Britânica, o BAFTA), o favorito a maior vencedor da noite, “Oppenheimer”, além do espanhol “Sociedade da Neve” e “Golda”, que tem seu único reconhecimento na categoria de maquiagem. Tendo lutado para se livrar da imagem de antissemita, a missão de “Maestro” nessa etapa final é de tentar superar seus adversários e ser reconhecido com pelo menos um prêmio na noite do dia 10 de março.
Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024