“Lutamos para nos salvar”: o relato de quem sobreviveu às enchentes no Rio Grande do Sul
Darcy Bauret Martins, de 67 anos, e Cristiane Cunha, de 51, compartilham suas experiências traumáticas com as enchentes no Rio Grande do Sul em entrevista para NINJA.
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul deixaram um saldo de mais de 169 mortes. Essa catástrofe climática é um fenômeno que marca a vida de muitas comunidades, causando destruição, perdas e deixando traumas nos que a vivenciam. Darcy Bauret Martins, de 67 anos, e Cristiane Cunha, de 51, moradores de São Leopoldo, uma das cidades mais atingidas, compartilham relatos de sobrevivência após a crise climática em entrevista para NINJA.
“Lutamos para nos salvar”
Darcy Bauret Martins, aposentado de 67 anos, é um veterano das enchentes no Rio Grande do Sul. Nascido e criado na mesma vila, ele testemunhou décadas de inundações que, segundo ele, foram constantes até meados da década de 1970. “Sempre teve enchente aqui, até 75, 76, depois já melhorou com as obras de drenagem”, relembra Darcy.
No entanto, Darcy relata que a pior enchente que ele presenciou ocorreu após 1965. “Depois de 65, foi a pior que eu vi aqui”, afirma. Em momentos de crise, a comunidade se organizava para buscar abrigo na igreja de São José, mas no dia da enchente mais devastadora, o cenário foi de desespero. “No dia da enchente foi um desespero, que pegou todo mundo de surpresa”, diz ele. A quebra de um dique agravou a situação, deixando pouco tempo para salvar pertences.
Darcy descreve como ele e sua família, composta por nove pessoas, lutaram para se salvar. “Não deu pra tirar nada”, lamenta. Durante o auge da enchente, a água subiu até o segundo piso de sua casa. Apesar das dificuldades, a comunidade se mostrou solidária, garantindo suprimentos essenciais, como comida e água. “Nunca faltou comida, a água, toda a água potável, toda a comida”, ele recorda, destacando a ajuda que receberam.
Enchentes no Rio Grande do Sul: o pavor de uma inundação inesperada
Cristiane Cunha, trabalhadora doméstica de 51 anos, viveu um dia de angústia no dia 3 de maio, quando começaram as enchentes no Rio Grande do Sul. Moradora do bairro Progresso, em São Leopoldo, ela iniciou sua sexta-feira como de costume, mas logo percebeu que algo estava errado. “Lá pela sete e meia, eu vi que tinha algo muito sério acontecendo”, conta Cristiane, ao lembrar das informações circulando nas redes sociais e nos comunicados da prefeitura.
A falta de informações claras sobre sua região aumentou a incerteza e o medo. Preocupada, Cristiane decidiu não ir ao trabalho, temendo não conseguir retornar para casa em segurança. “Eu não sabia o que estava para acontecer”, explica. A tensão aumentava conforme as notícias se agravavam, e Cristiane enfrentou várias crises de ansiedade.
Por volta das 10 horas da noite, ao verificar o trânsito interditado na avenida Mauá, Cristiane percebeu a gravidade da situação. “Aí me deu medo”, diz ela. A chegada das autoridades, alertando a população para evacuar, confirmou suas piores suspeitas. “Eu saí por volta das duas horas, duas e meia da manhã, eu não conseguia ficar”, relata, destacando a decisão difícil de deixar sua casa para se proteger.
Os relatos de Darcy e Cristiane revelam não apenas os desafios e o desespero enfrentados durante as enchentes no Rio Grande do Sul, mas também a resiliência e a solidariedade presentes nas comunidades afetadas. Ambos testemunharam momentos de extrema dificuldade, mas também viram como a união e a ajuda mútua podem fazer a diferença em tempos de crise climática.
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