Em um momento histórico, o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica se despediu da vida política em um discurso emocionado durante um comício de apoio ao candidato de esquerda Yamandú Orsi, no último sábado (19), em Montevidéu. Aos 89 anos e enfrentando um câncer no esôfago, Mujica tocou o público ao falar sobre sua luta contra a morte e a importância de continuar defendendo a educação e a juventude. Ele destacou que, apesar de estar perto do fim de seu ciclo, acredita que “milhares de braços” seguirão na luta por um mundo melhor.

“Quando meus braços se forem, haverá milhares de braços substituindo-os na luta, E toda a minha vida eu disse que os melhores líderes são aqueles que saem de uma equipe que os supera com vantagem”.

A despedida de Mujica, conhecida por seu estilo de vida simples e defesa da justiça social, reforçou a necessidade de um país livre de ódio e confrontos, enquanto elogiava a candidatura de Orsi como uma liderança capaz de abrir “o coração e a cabeça” do Uruguai. O discurso marcou o encerramento de uma era, com uma mensagem de esperança e compromisso com as futuras gerações.

Confira a declaração na íntegra

“Um minuto de coração, não da garganta.

É a primeira vez nos últimos 40 anos, que não participo de uma campanha eleitoral. E eu faço isso porque estou lutando contra a morte. Porque estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente.

Mas eu tinha que vir aqui hoje, pelo que vocês simbolizam. […] Então, sou um velho, sou um velho que está muito, muito perto de onde não se volta. Mas eu sou feliz porque vocês estão aqui, porque quando meus braços se forem, haverá milhares de braços substituindo-os na luta, E toda a minha vida eu disse que os melhores líderes são aqueles que saem de uma equipe que os supera com vantagem.

E hoje estão vocês, está Yamandu, está Pacha. Há milhares e outros que esperam e outros braços jovens, porque a luta continua por um mundo melhor. Eu gastei minha juventude, minha vida junto de minha companheira, que estou vivo por causa dela e dessa outra mulher, que é minha médica, senão eu já teria partido.

Eu tenho que vir agradecê-los de coração. Os mais jovens vão viver uma mudança no mundo que a humanidade não conheceu. A inteligência será tão importante quanto o capital, o que significa que a formação terciária irá se impor para as novas gerações.

Se não somos capazes como país de educar e de formar a geração que vem, vamos pertencer ao mundo dos irrelevantes, dos que não servem para que os explorem.

Este é o maior desafio do país. Por isso apoio Yamandu, porque é preciso um governo que abra o coração e a cabeça como país inteiro. Não é poético o que eu digo, alguém tem que dizer, que seja um velho.

Não ao ódio!

Não à confrontação!

É preciso trabalhar pela esperança!

Até sempre! Dou meu coração a vocês. Muito obrigado. Tenho que agradecer à vida, porque quando esses braços se forem, haverá milhões de braços. Obrigado por existirem. Até sempre.”