Lula reforça compromisso de acabar com fome no país e mercado reage com chantagem
“Engraçado que o mercado não ficou nervoso durante os quatro anos de Bolsonaro”, ironiza Lula
Por Mauro Utida
Em dia de estresse no mercado em reação à fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a necessidade de se colocar a questão social na frente de temas que interessam apenas aos investidores, o dólar comercial disparou e fechou esta quinta-feira (10) com alta de 4,14%, com cotação de R$ 5,397.
Para o colunista do UOL, José Roberto de Toledo, o tombo da Bolsa de Valores e a disparada do dólar nesta quinta é uma tentativa do mercado financeiro chantagear Lula para nomear o ministro da Fazenda ou, pelo menos, determinar qual será a política fiscal e econômica do governo dele, disse no programa Análise da Notícia.
“O que acho meio ridículo é a falta de tato político da ‘Faria Lima’ de achar que vai conseguir sensibilizar o Lula, um cara que chorou por causa de fome, com pressão de dólar a R$ 5,40”, acrescentou.
No mesmo dia em que o mercado se estressou com a declaração de Lula sobre a estabilidade fiscal, o presidente eleito chorou ao falar sobre a volta da fome no país e se comprometeu a combatê-la em seu mandato. O petista se emocionou durante o discurso a parlamentares e aliados políticos no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, local onde está sediada a equipe de transição de governo.
“Se quando eu terminar este mandato, cada brasileiro estiver tomando café, estiver almoçando e estiver jantando, outra vez eu terei cumprido a missão da vida”, afirmou Lula. Após aplausos, o presidente eleito pediu desculpas e afirmou que “jamais esperava” que a fome “voltasse a este país”. “Quando deixei a Presidência da República, imaginava que nos dez anos seguintes este Brasil estaria igual à França, estaria igual à Inglaterra, teria evoluído do ponto de vista das conquistas sociais”, acrescentou.
“A razão que tenho de voltar a ser presidente é tentar reestabelecer a dignidade do nosso povo”, disse Lula.
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Lula ironiza o mercado
Lula ficou incomodado com a tentativa do mercado tentar influenciar o seu governo de transição e resolveu dar uma cutucada. “O mercado fica nervoso à toa. Nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso durante quatro anos [do governo] Bolsonaro”, alfinetou Lula, em sua primeira visita à sede de trabalho da equipe de transição, no CCBB.
A questão tem como pano de fundo a articulação do governo eleito em torno da “PEC da Transição”, proposta de emenda constitucional que irá acomodar gastos não previstos na proposta de Orçamento de 2023 enviada ao Legislativo pela gestão Bolsonaro. Lula tem defendido o financiamento de políticas como o aumento real do salário mínimo, o Bolsa Família de R$ 600 com R$ 150 adicionais para cada criança de até 6 anos de famílias atendidas pelo programa, além de diversas outras políticas públicas.
“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal deste país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste país?”, questionou o petista, o que gerou a queda da Bolsa e alta do dólar.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e UOL
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