
Lula e presidentes do Chile, Colômbia, Uruguai e Espanha lançam manifesto em defesa da democracia
Em carta conjunta, Lula e outros quatro presidentes alertam para fragilidade da democracia e pedem reformas contra desigualdade
Às vésperas da cúpula internacional “Democracia Sempre”, marcada para esta segunda-feira (21) em Santiago, no Chile, os presidentes do Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Espanha divulgaram uma carta-manifesto que reforça a importância da defesa da democracia diante dos desafios atuais. Publicado neste domingo (20), o documento destaca os riscos crescentes aos regimes democráticos e a necessidade de ações concretas para combater as desigualdades que ameaçam sua estabilidade.
Assinam o texto Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai) e Pedro Sánchez (Espanha). No manifesto, os líderes alertam para um momento crítico da democracia, marcado pela erosão das instituições, pelo avanço de discursos autoritários e pelo crescente desinteresse da população — sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade.
“Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diversos setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sinais desse mal-estar. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais, e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado”, afirmam os presidentes.
Os líderes ressaltam que, em um mundo cada vez mais polarizado, é fundamental que governantes progressistas atuem com convicção e responsabilidade para conter forças que buscam enfraquecer a democracia e suas instituições. “Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas.”
A cúpula “Democracia Sempre”, convocada pelo presidente chileno Gabriel Boric, reunirá os cinco chefes de Estado para debater temas relacionados à democracia. O encontro será dividido em duas etapas: uma sessão fechada entre os mandatários e, em seguida, um diálogo com representantes da sociedade civil, pesquisadores e centros de estudo.
Leia a íntegra da carta assinada pelos cinco presidentes:
DEMOCRACIA SEMPRE
Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta um momento de grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais, e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado.
Diante desse cenário, não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança. Em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições. Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas. É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima. Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre.
Esse é o princípio que convoca os governos do Chile, Brasil, Espanha, Uruguai e Colômbia à Reunião de Alto Nível “Democracia Sempre”, a ser realizada em Santiago no próximo dia 21 de julho.
Esse esforço compartilhado não é apenas a continuação do encontro impulsionado pelos governos do Brasil e da Espanha durante a Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, mas dá um passo adiante. Porque, longe de ser um gesto isolado ou simbólico, é uma iniciativa que busca defender a democracia como um bem comum.
Sabemos que as democracias não se constroem apenas a partir dos governos. Construir propostas conjuntas e eficazes que fortaleçam a coesão social, a participação cidadã e a confiança nas instituições é um trabalho que não pode se limitar a cartas de boas intenções ou recair apenas sobre os governos de turno e seus representantes. Por isso, essa iniciativa também convoca organizações sociais, centros de pensamento, juventudes e diversos atores da sociedade civil, porque sua participação e ação são fundamentais para que a democracia recupere sua capacidade transformadora.
Sabemos também que defender a democracia exige que sejamos capazes de condenar as derivas autoritárias e, ao mesmo tempo, falar de forma positiva, propondo reformas estruturais para enfrentar a desigualdade em nossos países e no mundo. A história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho possível para garantir a paz e a coesão social, e as oportunidades para todos. Impulsionar estratégias comuns em favor do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, da justiça social e dos direitos humanos é um imperativo ético e político. Porque a democracia é frágil se não for cuidada.
Hoje nos reúne a certeza compartilhada da necessidade de melhorar a resposta do Estado às demandas de nossos povos e governar com eficácia, com justiça, com direitos. Com democracia, sempre. E com a convicção de que defender a democracia nestes tempos difíceis não é apenas resistir e proteger, mas propor e seguir avançando. Essa é a tarefa urgente do nosso tempo.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Gabriel Boric Font
Presidente da República do Chile
Pedro Sánchez Pérez-Castejón
Presidente do Governo da Espanha
Yamandú Orsi Martínez
Presidente da República Oriental do Uruguai
Gustavo Petro Urrego
Presidente da República da Colômbia