Em artigo publicado no início do mês para a agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, o jornalista Lúcio Flávio Pinto traçou a história do alumínio na Amazônia e o triste fim que essa indústria vem tendo para a população local.

“Estamos tendo o triste privilégio de contemplar o frustrante desfecho de meio século de luta para montar um polo de alumínio na Amazônia de grandeza mundial, capaz de induzir um processo de desenvolvimento regional. Estancamos na produção de metal primário”, conta. O jornalista, referência em jornalismo investigativo na região, fala sobre como, após anos, os planos de tornar o Pará em um polo de referência global está chegando ao fim graças ao não investimento na produção local e nas grandes concorrências em indústrias como as chinesas.

“Todos os passos à frente na transformação do produto foram transferidos para fora do Brasil, em benefício do comprador das nossas commodities, cristalizando nossa condição colonial. É em outros países, principalmente da Ásia (a China, depois do Japão), que ocorre o efeito multiplicador dos investimentos. Situação inalterada há quase 40 anos”, analisa.

Durante suas pesquisas e investigações, Lúcio explica que se aproximou do geólogo Breno Augusto dos Santos, “a maior autoridade em mineração na Amazônia”, também um estudioso da história da criação do polo de alumínio na Amazônia. Breno revelou que a criação da Docegeo (empresa de pesquisa geológica da Companhia Vale do Rio Doce), como braço da diversificação mineral da Companhia, fez parte de um plano do governo federa para maior controle nacional das riquezas do subsolo brasileiro, mas que, contudo, pouco se tem registrado sobre as funções da Docegeo.

“Na pesquisa de bauxita, a equipe coordenada pelo geólogo Roberto Assad descobriu e avaliou os depósitos de bauxita de Jabuti e de Tiracambu, na região de Paragominas e de Berenice, na região de Almeirim. Outros depósitos menores também foram pesquisados em toda Amazônia, até as proximidades de Manaus”, aponta Breno.

Breno explica que, quanto mais as explorações demonstraram a riqueza do solo da Amazônia sob diversos minérios, mais empresas estrangeiras tinham interesse em se estabelecer aqui e, como forma de manter parte do controle sobre o Brasil em meio a essa exploração, os governantes ao longo das décadas foram dando mais e mais poder para a Companhia Vale do Rio Doce.

“E, em tempos mais recentes, após a privatização total da antiga CVRD, iniciada no governo Fernando Henrique Cardoso, mas completamente finalizada nos governos Temer e Bolsonaro, a área de negócios de alumínio, do minério e ao metal, talvez pela sua complexidade, que envolve custos de energia, deixou de ser atrativa para os novos donos da Vale. A empresa resolveu concentrar a sua produção e comercialização no minério de ferro e em metais base, notadamente cobre e níquel”, avalia Breno, em texto para o jornalista.

Lúcio, dentre outras coisas, lamenta o destino que a exploração do minério teve na Amazônia, e afirma que a Vale, dentre outras coisas, tem que dar prioridade aos interesses e aos lucros de seus acionistas.