.

O mês de março chegou. E com ele está aberta a temporada de machos, de direita e de esquerda, opinando sobre o dia da mulher.

Normalmente, as opiniões são de dois grupos:

1) Não há necessidade de haver um dia da mulher, com sua variante “deveria haver um dia do homem”.

Por essa lógica, opressão de gênero, discriminação salarial, violência doméstica, exploração do trabalho doméstico, feminicídio e cultura do estupro são coisas do passado. A igualdade já teria sido alcançada e não faria nenhum sentido para mobilizar forças sociais para pautas específicas das mulheres.

2) O segundo grupo é o que gosta de se pronunciar sempre, sobre tudo. Não faltam propostas para organização da luta das mulheres. Aqui homens de ex-querda usam de todo seu conhecimento sobre o tema opressão de gênero para querer pautar os movimentos de mulheres, nos ensinando sobre como deveríamos nos organizar.

Desde sugestões sobre o nome do dia da mulher (não há problema em que a sugestão não seja inédita; afinal, parte-se da premissa de que uma ideia só é ouvida quando repetida por um homem), até crítica de estratégia do movimento feminista.

Na verdade, é muito bom sermos apoiadas pelos homens da nossa vida – pais, companheiros, amigos, colegas – em nossa militância diária. É muito bom também quando encontramos homens interessados em apoiar a luta feminista.

Mas há uma grande diferença em apoiar a luta feminista e simplesmente sofrer de incontinência verbal. No movimento feminista há uma expressão muito oportuna para definir os homens que gostam de protagonizar discursos feministas sem se importar de estar silenciando as mulheres: querer biscoito. No fundo, eles apenas querem chamar atenção, receber aplausos e ganhar um biscoito como prêmio.

E é bem fácil de perceber a diferença entre um homem que apoia o feminismo e um homem que quer biscoito: o segundo fica rapidamente revoltado com qualquer crítica que ouça de uma mulher feminista.

Nossa dica: não seja esse macho.

No outro extremo, está quem quer celebrar o dia da mulher com homenagens despolitizadas, com flores, com mensagens bregas, com presentes de promoções comerciais.

Como dizia a música do DeFalla, não me mande flores.

Como os homens podem então participar do dia da mulher?

O dia da mulher é um dia de mobilização e organização da luta das mulheres contra todas as formas de opressão de gênero. É também um dia de reflexão. De avaliar o quanto ainda nos falta alcançar para que atinjamos a igualdade. Um dia de unir as mulheres – negras, brancas, indígenas, gordas, lésbicas, bi, cis, trans – e suas vozes.

O melhor que um homem pode fazer é ouvir a mulher que está ao seu lado: sua mãe, sua irmã, sua companheira, sua colega. Incentivar que ela fale. E exercitar o respeito. A partir daí será muito bom contar com o seu apoio à nossa luta.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

Márcio Santilli

Através do Equador

XEPA

Cozinhar ou não cozinhar: eis a questão?!

Mônica Francisco

O Caso Marielle Franco caminha para revelar à sociedade a face do Estado Miliciano

Colunista NINJA

A ‘água boa’ da qual Mato Grosso e Brasil dependem

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos

Casa NINJA Amazônia

O Fogo e a Raiz: Mulheres indígenas na linha de frente do resgate das culturas ancestrais

Rede Justiça Criminal

O impacto da nova Lei das saidinhas na vida das mulheres, famílias e comunidades

Movimento Sem Terra

Jornada de Lutas em Defesa da Reforma Agrária do MST levanta coro: “Ocupar, para o Brasil Alimentar!”