Legado na arqueologia: criança indígena sepultada em casca de árvore é investigada pela ciência
Abertura da casca da árvore promete fornecer novas informações sobre os rituais funerários e a vida dos povos indígenas da região central de Minas Gerais.
A arqueóloga indígena Bibi Nhatarâmiak está conduzindo uma pesquisa inédita sobre uma criança indígena sepultada há entre 600 e 1.300 anos, em uma casca de árvore, encontrada em 2004 no sítio arqueológico da Lapa do Caboclo. Agora, no doutorado, Nhatarâmiak planeja abrir a estrutura da casca da árvore para obter mais detalhes sobre a vida de Nimu Borum, nome dado à criança através de tradições ancestrais. A informação foi publicada pela Folha de São Paulo.
Nhatarâmiak revelou que a decisão de abrir a casca da árvore só foi possível após receber uma “liberação espiritual”. “Durante o mestrado eu não tive a liberação espiritual para fazer a abertura da casca da árvore”, conta a pesquisadora. “Duas semanas depois da defesa da minha dissertação, eu recebi essa liberação da própria criança, através de sonhos, permitindo-me ter um contato mais íntimo com os ossos e continuar a pesquisa.”
O sepultamento de Nimu Borum, que inicialmente não havia sido nomeado, estava no acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG após a escavação de 2004. Em junho de 2020, um incêndio devastador atingiu o museu, destruindo grande parte do acervo biológico. No entanto, como Nimu estava em exposição na época, não foi afetada pelas chamas, conforme relatou a professora Mariana Petry Cabral, do departamento de arqueologia da universidade e orientadora do projeto de Nhatarâmiak.
Cabral expressou seu impacto pela abordagem cuidadosa de Nhatarâmiak, destacando a importância de tratar os ancestrais encontrados em escavações com o devido respeito. “Temos um histórico de lidar com ancestrais como esqueletos ou ossos. Na verdade, são pessoas que estamos encontrando, e com a Bibi eu aprendi a olhar para elas como pessoas de fato”, disse Cabral.
A pesquisa de Nhatarâmiak também levou à reflexão de Andrei Isnardis, professor da UFMG e coordenador das escavações iniciais. “Na arqueologia, discutimos muito sobre a ética de escavar sepultamentos. Há 20 anos, não havia essa discussão, pois era visto como uma fonte rica de informações. Hoje, eu optaria por não perturbar a composição funerária e as pessoas presentes ali. A pesquisa da Bibi é, portanto, extremamente relevante”, afirmou Isnardis.
A abertura da casca da árvore promete fornecer novas informações sobre os rituais funerários e a vida dos povos indígenas da região central de Minas Gerais.
*Com informações da Folha