Nesta terça-feira (10), no primeiro (e talvez único) debate entre a candidata democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump a caminho das eleições de 5 de novembro, não houve muito espaço para dúvidas.

A menos de dois meses das eleições, às vésperas do início da votação antecipada em muitos estados e empatada como mostram as pesquisas de intenção de voto, havia pouco espaço para erros.

Com sua intervenção contundente, Harris conseguiu acalmar preocupações de longa data sobre suas habilidades de falar em público, que começaram com sua candidatura malsucedida à Casa Branca em 2020, e só foram exacerbadas por sua falta de jeito em algumas entrevistas nos últimos anos.

Para Anthony Zurcher, repórter da BBC News nos Estados Unidos, se é possível falar em um vencedor ou perdedor do debate, “a noite desta terça-feira se moveu a favor da vice-presidente”.

Harris conseguiu colocar Trump “na defensiva” — e nos próximos dias, o ex-presidente “poderá se arrepender da oportunidade perdida” de não ter conseguido pressionar da mesma forma a democrata, sobre quem o eleitorado tem sérias preocupações, como em relação à inflação, à saída do Afeganistão e à imigração.

“Em um debate nervoso de 90 minutos, Harris frequentemente abalou o ex-presidente — incitando-o a longas defesas sobre o tamanho de suas multidões nos comícios, sobre sua conduta durante o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos EUA e sobre os funcionários que serviram em seu governo e se tornaram críticos declarados de sua campanha”, escreveu Zurcher.

Temas em disputa

Economia

Trump, ao seu estilo conhecido dos comícios, lançou uma série de argumentos até certo ponto desconexos não apenas sobre economia, mas também sobre a imigração, a ponto de ser repreendido por um dos moderadores. Kamala o acusou de ter manejado mal a pandemia da Covid-19, dizendo que o governo de Joe Biden trabalhou para “resolver a bagunça”, e citou o Projeto 2025, um plano elaborado por conservadores do qual Trump tenta se desvencilhar em público, sem muito sucesso.

O republicano defendeu seu plano de impor uma tarifa sobre importações, especialmente sobre produtos vindos da China, afirmando que a proposta não elevará a inflação, como aponta Kamala — ele disse ainda que os democratas “destruíram” a economia.

Aborto

Em um dos temas mais sensíveis da campanha, o aborto, Trump defendeu a decisão de 2022 da Suprema Corte, que delegou aos estados a decisão sobre políticas relacionadas à interrupção de gestações, chamando os juízes conservadores, três indicados por ele, de “corajosos”, e não quis responder se apoiaria uma proibição nacional do aborto. O republicano também não soube comentar de forma concisa as objeções de seu companheiro de chapa, J.D. Vance, ao aborto legal.

Kamala, que tem na defesa do direito ao aborto um ponto considerado forte da campanha, citou casos de mulheres que morrem em procedimentos ilegais e arriscados, e prometeu levar ao Congresso um plano para tornar esse direito uma lei federal. Ela foi uma das principais vozes que se levantaram contra a decisão da Suprema Corte, que revogou uma jurisprudência firmada em 1973.

Imigração

No tema da imigração, Kamala Harris mencionou que Trump atuou para destruir um plano para imigração, considerado um dos mais duros em muitos anos, por considerar que poderia “ajudar” na campanha de Joe Biden. Ao afirmar que seu rival não tem propostas claras, disse que ele cita “ideias fictícias” em seus comícios, e que as pessoas vão embora antes do fim dos discursos. Em determinados momentos da argumentação do republicano, chegou a dar risadas. Inclusive, o ex-presidente fez uma alegação racista de que imigrantes estariam comendo animais de estimação em Springfield, Ohio. Autoridades de Springfield disseram à BBC Verify (programa de checagem da BBC) que isso é uma óbvia fake news propagada pela extrema direita.

Processo legal contra Trump

Como esperado, a democrata citou os quatro processos criminais contra o republicano, incluindo a condenação no caso ligado ao pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô antes da eleição de 2016, e afirmou que é hora de abandonar o “velho livro de jogadas” e apresentar propostas para o futuro. Trump disse que “está vencendo” em todos os casos, e acusou o governo Biden de usar a Justiça como arma contra ele, algo que, opinou, “jamais aconteceu neste país”.

Genocídio palestino

Referindo-se à guerra em Gaza, Trump afirmou que, se Harris vencer, Israel “não vai existir em dois anos”, alegando que a democrata “odeia Israel”. A vice-presidente respondeu que sempre defendeu Israel, mas pediu o fim da guerra e a solução dos dois Estados para “reconstruir Gaza”.

Foto: NBC

Maratona de pesquisas

As pesquisas eleitorais mostram uma disputa bastante acirrada entre os candidatos, principalmente nos sete estados-pêndulo em que a preferência partidária é menos definida do que em outras partes do país.

Os mais recentes dados compilados pelo site 538 sugerem que menos de um ponto percentual separa Kamala Harris e Donald Trump em cinco estados: Arizona, Geórgia, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia.

A vice-presidente está atualmente dois pontos percentuais à frente em Michigan e três em Wisconsin.

Mas cada pesquisa tem uma margem de erro, o que significa que os números podem ser maiores ou menores na realidade. Portanto, é difícil afirmar a preferência de fato nesses estados.

*Com informações do G1 e BBC Brasil