Juventude sob pressão: a expectativa sobre atletas muito jovens nas olimpíadas
Jovens atletas destacam a saúde mental; pressão intensa afeta distintamente os talentos adolescentes.
Por Saara Paiva, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
As Olimpíadas de Paris já estão chegando ao fim e o que não faltou nesse período foram comentários e memes nas redes sociais, inclusive sobre o comportamento do brasileiro “torcendo para meninas de 13 anos caírem”, como comentam alguns tweets no X (antigo twitter), em relação às atletas do skate, que têm uma média de idade menor do que em outras categorias.
Enquanto no Skate Street feminino na Olimpíada de Paris a média de idade da final foi de 16 anos, com participação de atletas ainda mais jovens nas primeiras fases da competição, a média de idade de outros esportes fica em 30 anos.
Os adolescentes estão principalmente em categorias como Skate Street. Zheng Haohao, que representou a China, tem apenas 11 anos e é a mais jovem atleta feminina que competiu nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
A atleta brasileira, Rayssa Leal, começou a competir nas olimpíadas de Tóquio com apenas 13 anos, e conquistou uma medalha de prata na categoria street do skate.
E se falamos muito da importância da saúde emocional dos atletas, principalmente em competições de alto nível como essa, como exigir maturidade, calma e controle de jovens que, em alguns casos, continuam entrando na adolescência?
As altas performaces aliada a pressão de representar o país e as expectativas do público/mídia, exerce um estresse relevante. A espera dos resultados em todo treinamento, o isolamento para tal e o desejo de medalha se tornam uma ação primordial em suas vidas. Nesse intuito, o psicólogo terapêutico especializado em esportes tem as ferramentas necessárias para lidar com ansiedade, por exemplo.
Segundo a Psicóloga Isabela Constantino, a sensação de pressão psicológica é inerente ao esporte de alto rendimento. “O atleta é exposto a situações diversas, como o treino excessivo, a busca por resultados, críticas, restrições e cobranças internas e externas. Em um grande evento como as Olimpíadas, essa sensação pode aumentar, até pelo fato deste atleta se tornar um representante do seu país naquela modalidade”, comenta.
Para ela, é importante que todos os envolvidos entendam que cuidar da saúde mental também deve fazer parte do treinamento, já que a não administração desses sentimentos pode levar a quadros de ansiedade e depressão, que afetam diretamente o rendimento dos atletas.
A necessidade de autocontrole pôde ser acompanhada na final da categoria street do skate, quando diversas atletas, que fizeram boas participações no campeonato mundial, passaram a errar manobras das quais tinham domínio.
Situação semelhante também aconteceu na final da Trave de Equilíbrio, quando seis das oito competidoras caíram do equipamento, incluindo uma das favoritas, Simone Biles.
“Todos somos afetados pelas emoções o tempo todo. Para atletas, que não são super-heróis, como as pessoas costumam achar, isso não é diferente. Durante uma competição, eles vão experienciar várias emoções em um curto espaço de tempo: da alegria de um acerto, à frustração de um erro, por exemplo. Além disso, as habilidades cognitivas, como a atenção, o controle da impulsividade e a tomada de decisão são diretamente afetadas pelo emocional. As emoções fazem parte, a diferença é como o atleta se relaciona e lida com elas. Por isso, reconhecê-las, gerenciá-las e ter estratégias de autorregulação, são fundamentais para afetar o desempenho positivamente”, afirma Isabela.
A nova geração de atletas tem apresentado mais preocupação com a saúde mental. Em 2021, a ginasta Simone Biles chocou o mundo ao largar uma olimpíada para cuidar do seu emocional. Durante as Olimpíadas de Paris 2024, a também ginasta, Rebeca Andrade, e a skatista, Rayssa Leal, também comentaram a importância da terapia em suas vidas. “Foi uma das melhores coisas para mim como atleta, porque sou muito novinha e tudo aconteceu muito rápido. A ajuda dela e da minha equipe foi essencial para mim”, disse Rayssa ao Olympics.com.
Para Isabela, esse momento de formação e mudanças físicas dos adolescentes também se estende aos recursos emocionais e cognitivos. “Se aspectos psicológicos e mentais não forem cuidados nesta etapa também, o adolescente pode ficar inseguro, sentindo-se incapaz, triste e até mesmo ter o desejo de desistir do esporte”, finaliza.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) não regula uma idade limite para o início de um atleta nos Jogos Olímpicos, essa responsabilidade fica com as federações internacionais, que definem a idade nos critérios de classificação para os Jogos Olímpicos de Paris.
Os pais também são parte importante desse cuidado com jovens atletas. Fazer o acompanhamento, dar suporte e buscar apoio profissional para os filhos, reforçando a importância de um psicólogo, vale ouro.