por Kawê Veronezi e Isabela Vanzin

A imagem da juventude engajada no clima se consolidou nas greves escolares e nos grandes protestos nos últimos anos, principalmente pela grande mídia. No entanto, por trás da merecida visibilidade midiática, esconde-se um paradoxo: enquanto são aplaudidos pela “consciência”, seu real potencial para liderar a transformação sistêmica é frequentemente subestimado. Reduzidos a mascotes do ativismo, jovens cientistas, empreendedores e formuladores de políticas lutam para mover suas contribuições da margem para o centro das decisões.

A percepção pública, muitas vezes, limita o jovem ativista à figura que segura o cartaz. Contudo, um ecossistema de ação muito mais complexo e robusto nos foi revelado com as cartas entregues à presidência no Pré‑COP. A transformação que essa geração propõe vai muito além da indignação, ela está sendo construída em laboratórios, startups de tecnologia verde e nos corredores dos tribunais.

Nas universidades, são os pesquisadores jovens que conduzem muitos dos estudos de campo sobre o impacto do aquecimento em ecossistemas locais e desenvolvem novos materiais sustentáveis. Startups fundadas por recém-formados estão desenvolvendo desde tecnologias de captura de carbono mais baratas até aplicativos com soluções verdes para seus territórios. Em espaços judiciários e políticos, tem sido a juventude quem mais pressiona as partes interessadas nos lucros dos desastres socionaturais. 

Especialistas em movimentos sociais apontam para o “adultismo” estrutural como uma das causas que mantém a desigualdade de vozes nos processos de decisões. Aqui, o “adultismo” seria a tendência de desqualificar propostas jovens como ingênuas ou utópicas, enquanto as soluções “maduras”, que muitas vezes perpetuam o uso de combustíveis fósseis, continuam a dominar a agenda.

Jean Ferreira, jovem da organização Gueto Hub e membro da coalizão “COP das Baixadas”, comenta sobre o espaço da juventude: “A gente entende que o nosso lugar como juventudes é na mesa de decisões, é junto às nossas autoridades, aos nossos líderes mundiais, negociando juntos. Não dá para falar de mercado de carbono, sem incluir a juventude indígena, sem incluir a juventude periférica, sem incluir a juventude ribeirinha, quilombola que está no front. Não dá para a gente falar de Fundo de Perdas e Danos sem que tenha um real compromisso de como esse financiamento vai aterrar-se, enraizar-se nas comunidades locais”.

Juventude e a COP30

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém, tem sido chamada de “COP da Implementação”. Pela primeira vez, temos a juventude ocupando o espaço de decisão de forma oficial. O cargo de Presidency Youth Climate Champion (PYCC) foi institucionalizado no sistema da ONU. Marcele Oliveira, ativista de 26 anos, oriunda da periferia do Rio de Janeiro, foi escolhida entre 154 candidatos para representar crianças e jovens no processo de tomada de decisão da COP30.

Para ampliar a participação popular, a presidência lançou o Mutirão Global das Juventudes, que mapeou mais de 230 iniciativas lideradas por jovens em todo o mundo. As cartas entregues à presidência no Pré‑COP, em Brasília, reuniram mais de 300 jovens de 40 organizações e mostraram que a base já tem soluções em marcha para adaptação, justiça climática e equidade racial. Marcele explicou que esses projetos servem de vitrine para mostrar que “as soluções já existem” e que a juventude exige um papel de protagonista.

Juventude como protagonista

A nova geração ocupa as ruas, opera em rede, conecta lutas socioambientais ao cotidiano e traz para o centro pautas que antes eram tratadas como “excesso de idealismo”. Em um mundo que já entrou na era das emergências, com enchentes em série, secas prolongadas, ondas de calor recordes, o ativismo juvenil tem mostrado cada vez mais alternativas essenciais para a governança da agenda climática.

Em meio a um cenário de urgência, quem mais surpreende pela audácia e pelo pragmatismo são os jovens. Por décadas, a juventude foi tratada como símbolo e não como força política real dentro da agenda climática global. Entre fotos de líderes posando com jovens e discursos que repetem o mantra do “futuro é deles”, consolidou-se uma narrativa perigosa: a de que jovens são coadjuvantes bem-intencionados, não protagonistas estruturais.

A participação ativa de jovens na COP30 traz um recado: há uma ruptura histórica acontecendo. O protagonismo da juventude, cuja presença em outras conferências era majoritariamente simbólica, agora passa a ser institucional.

Em tempos em que a população de jovens (entre 10 e 24 anos) se estima em 1,8 bilhão de pessoas, a maior geração jovem da história de acordo com a ONU, ignorar seu papel na governança climática e mantê-los à margem das decisões é reforçar desigualdades e desperdiçar a força política mais numerosa e diretamente impactada pelas decisões tomadas hoje. Reconhecer o destaque dos jovens é garantir que as soluções implementadas sejam duradouras.