Por Hyader Epaminondas

Como quase toda criança dos anos 90, eu amo dinossauros. Mas não é só amor, é encantamento. Um fascínio que escapa das palavras e que talvez só possa ser explicado pela força do olhar. Existe algo de profundamente mágico em vê-los surgir na tela do cinema, maiores que a vida, mais antigos que a imaginação, nos lembrando, silenciosamente, de que o mundo não foi feito para nós.

Embora meu verdadeiro encantamento tenha começado com a jornada de Aladar, na animação Dinossauro, da Disney, ir ao cinema para ver um novo Jurassic sempre me transporta para um parque temático de emoção. Um ritual visual que mistura reverência, adrenalina e um desejo primitivo de ver. Ver para crer. Ver para se perder. E talvez este novo filme seja exatamente sobre isso: sobre o olhar como experiência total, sobre permitir que os olhos se rendam ao que é colossal, selvagem e indomável.

Existe aqui o exercício pleno da pulsão escópica, esse impulso do inconsciente que nos move a procurar prazer no ato de ver, de testemunhar o extraordinário, começando por uma pequena amostra para emular Tubarão, depois brincando um pouco na selva com um desconforto à la Anaconda, e finalizando com um monstro jurássico digno dos grandes kaijus japoneses. Os dinossauros não estão apenas em cena, eles impõem sua presença como fetiches visuais. São mitos em forma de músculo e escamas, feitos para provocar um tipo específico de gozo, o do olhar que se assusta, se atrai e se perde.

Por que ainda olhamos para dinossauros?

A trama, como de costume na franquia, é apenas um fio. Um caminho funcional por onde se conduzem os personagens até os encontros que realmente importam, aqueles com as criaturas. O que interessa não é tanto o “porquê” da história, mas o “como”. Como esses animais, há tanto extintos e ao mesmo tempo tão vivos no inconsciente coletivo, são revelados em tela. Como surgem das sombras. Como se impõem no campo do visível. Cada passo de um dinossauro parece fazer vibrar algo, como se o som ecoasse em camadas subterrâneas do corpo. Eles voltaram a dar medo. E isso muda tudo.

Diferente da trilogia anterior, que por vezes tratava os dinossauros como mascotes de videogame, aqui eles voltam a ser forças da natureza. Criaturas com peso, presença e mistério. O filme sabe pausar, e essas pausas são preciosas: antes do rugido, o silêncio. Antes da correria, o susto. O suspense volta a ser uma arte, não um efeito. E, nessa espera entre o visto e o por ver, a pulsão escópica se intensifica. O prazer está em adiar a imagem, prolongar o desejo, sustentar a tensão. A floresta volta a ser selva. O laboratório volta a ser uma armadilha, ou melhor, o ponto de encontro. O ser humano volta a ser apenas mais um corpo vulnerável, submetido ao olhar impassível da fera.

Os núcleos humanos funcionam com desequilíbrios. Scarlett Johansson entrega uma atuação firme, elegante, trazendo gravidade ao papel que ocupa. O grupo de mercenários é carismático e movimenta bem a ação. Já o núcleo da família é arrastado, como se existisse apenas para preencher lacunas entre uma aparição e outra dos verdadeiros protagonistas. Porque, no fundo, pouco importa: os dinossauros são o centro gravitacional do filme e do olhar. São eles que puxam os olhos como um vórtice, com a mesma intensidade com que aterrorizam os personagens em cena.

E é nisso que o filme mais acerta, em nos fazer olhar. Em restaurar o poder do espanto. Em lembrar que há uma beleza específica em parar tudo diante do que nos ultrapassa. Jurassic World: Recomeço entende que dinossauros não são apenas feras. São imagens totêmicas, sobreviventes do tempo por meio da imaginação humana. São nossos monstros sagrados. E o filme os devolve a esse lugar simbólico com precisão quase religiosa.

Os dinossauros passaram a conviver livremente com a sociedade humana após o fim do filme anterior. Havia uma promessa de mudança de paradigma. O extraordinário virou cotidiano. O milagre virou incômodo. O que antes gerava maravilhamento passou a representar risco e banalidade. Nesse novo mundo, onde uma criatura pré-histórica pode cruzar uma rua ou invadir uma fazenda, algo muito maior se perdeu: o olhar. O desejo de ver com espanto. A pulsão escópica foi anestesiada.

Jurassic World: Recomeço parece plenamente consciente disso. Parte de seu mérito está em reconstruir o poder simbólico dessas criaturas justamente a partir do cansaço narrativo. E isso acontece tanto dentro quanto fora da tela, há uma subtrama de reeducação do olhar, de reencantamento.

Os personagens da trama já não se deslumbram. Tratam os dinossauros como pragas. E é nesse vazio emocional que o filme encontra sua força, através do personagem do Dr. Henry Loomis, vivido por Jonathan Bailey, uma clara analogia à geração que cresceu com esses gigantes do imaginário. Ele representa o olhar recuperado. A criança interior que nunca deixou de olhar para essas criaturas como milagres.

O filme nos provoca a pensar no poder dos museus. Nos fósseis que habitam corredores silenciosos e que, mesmo imóveis, despertam comoção. Porque os museus, ao contrário do mundo moderno que exige velocidade e consumo, trabalham com lentidão. Com contemplação. São espaços dedicados à pulsão escópica em sua forma mais pura: olhar sem tocar, desejar sem possuir. E é essa memória que o novo Jurassic World quer restaurar: a do primeiro olhar diante de um esqueleto de T-Rex, a dúvida sobre como seria ouvir um rugido real, a sensação de que a Terra já foi habitada por seres que escapam da nossa escala de existência.

Não se trata de reviver a infância, mas de nunca deixá-la morrer. O novo filme entende que reviver não é repetir, é fazer pulsar de novo. E, por isso, entre um grito e outro, entre uma fuga desesperada e um instante de silêncio, nos faz lembrar por que amamos essas criaturas: porque elas não são apenas pré-históricas. São também eternas. Porque foram feitas, acima de tudo, para serem apreciadas.