Por Bia Barros

É comum ouvir que, em meio a rotina de estudos e trabalho, a arte é um hobby. No entanto, esta não é a verdade que guia a artista Júlia Dudu. Para ela, arte é uma necessidade. “Não é uma escolha, não é um lugar ou momento que eu simplesmente paro. Eu sonho com minhas criações, sinto um impulso e tenho que fazer. Quando eu não materializo minhas ideias, fico mau”, ela explica. 

Maria Júlia Eduardo nasceu e foi criada na Grota de Santa Helena, uma das maiores periferias do bairro Chã da Jaqueira, na capital de Alagoas. Desde 2015, ela usa o nome artístico “Júlia Dudu” para expressar o que sempre viveu junto a ela: arte em variadas formas. Júlia é conhecida pela vasta amplitude de obras e performances em Maceió (AL).

Sendo uma “multiartista” por natureza, Júlia Dudu materializa suas ideias de diversas maneiras: escultura, pintura, fotografia, desenhos, artesanato e costura. Além de tudo, ela também é atriz, dançarina, cantora, compositora e modelo. 

Foto: Oriana Perez

“[…] Tenho o poder e a liberdade de criar e falar sobre diversos assuntos. Sempre pautam esse tema ‘identidade indígena’ comigo e, na maioria das vezes, quem pergunta não conhece ao menos um povo daqui de Alagoas”, diz Júlia Dudu.

Hoje ela é conhecida pela amplitude de expressões, o que se manifestou naturalmente pelo contato familiar que teve. As mulheres da família Eduardo foram um grande potencializador para a Júlia Dudu, especialmente a sua mãe Jozilda e as tias Joziene, Joziete e Janete. 

Criada entre as tintas, linhas e agulhas de sua mãe e de suas tias, ela diz: “Foi com elas que agucei meu instinto criativo. Elas me incentivam, me criticam, me fortalecem para continuar.”

Foto: Thomas Falcão

Júlia Dudu também é cantora e compositora: “Tenho canções autorais e sigo na luta para conseguir gravar meus trabalhos musicais”.

No seu estado de nascença e na sua família, ancestralidade é uma raiz de criatividade. Para Júlia Dudu, Alagoas ainda falha em valorizar as expressões culturais alagoanas e aqueles que as alimentam. “Costumo dizer que a terra tem memória. Viver nessa terra [Alagoas] é sentir cotidianamente o apagamento identitário de seus nativos e, ao mesmo tempo, contemplo cada pedaço de paraíso que aqui existe.”

Nas telas e performances, fica evidente que o posicionamento é tão importante quanto o instrumento para Júlia Dudu. Quando não se limita a um tema ou linguagem só, obra e artista falam em uníssono. “O meu ser artístico junto às minhas criações, resumidamente, é um ato político. Fazer arte em um estado que não preza pela valorização dos seus conterrâneos é resistência.”

Conheça mais alguns de seus trabalhos: 

Paisagens e sensações são ressignificadas pelo seu olhar único. Na foto, a artista está próxima de sua obra “REDEMOINHO, 2023” (Foto: Júlia Dudu). 

Com formação técnica em Fotografia e vivência artística ampla, as obras de Júlia Dudu não seguem em um só estilo. Conhecida por suas obras visuais, os trabalhos exploram cores, colagens, traços e sensações.  

Da esquerda para direita, Júlia Dudu e Mary Alves posam durante a gravação do visualizer de “Eco da Vida”, disponível no Youtube (Foto: Reprodução/@clickniggas)

Na voz e partitura, Júlia Dudu recentemente participou da canção “Eco da Vida”, lançada em fevereiro desde ano. A canção faz parte do projeto-visualizer “O Quilombo Somos Nós”, da cantora Mary Alves, que convidou Júlia Dudu no ano passado para uma colaboração artística. 

A música foi feita sobre influência de uma criação minha que estava só aguardando a oportunidade de vir ao mundo, e junto à Mary Alves, aprimoramos e complementamos a letra. Sou muito grata por essa junção. Mesmo estando no meio musical a um tempo, rodeada de músicos, Mary Alves foi a primeira pessoa que chegou junto pra fazer acontecer de verdade.”, Júlia Dudu explica sobre o processo criativo da colaboração. 

Vestida das peças da Casa Lado Bê, Júlia Dudu desfila na terceira edição do Renda-se Alagoas (Foto: Carlos Davi).

Sua veia performática também foi incorporada às passarelas. Em 2023, Júlia Dudu desfilou no evento “Renda-se Alagoas” – o único evento voltado exclusivamente para a renda de Filé, patrimônio cultural do estado de Alagoas. Ela vestiu com peças do designer Dely Teodoro, que já vestiu celebridades como Marina Sena e Pabllo Vittar, e peças da Casa Lado Bê.