O julgamento sobre o rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em Mariana, Minas Gerais, em 2015, começou nesta segunda-feira (21) em Londres, Inglaterra. A ação coletiva visa responsabilizar a mineradora BHP, uma das maiores do mundo, por seu papel no maior desastre ambiental do Brasil. Estima-se que as indenizações possam chegar a £ 36 bilhões, cerca de R$ 265 bilhões. O julgamento deve durar até 5 de março de 2025, com a decisão final prevista para meados do ano que vem.

O caso envolve 620 mil vítimas, incluindo 23 mil membros de comunidades quilombolas e indígenas, além de 46 municípios afetados. Os advogados argumentam que a BHP controlava as operações da barragem e tinha conhecimento dos riscos de rompimento, sendo, assim, culpada por negligência. A Vale, outra proprietária da Samarco, já firmou um acordo no Brasil e está fora desse processo.

Durante o julgamento, o direito ambiental brasileiro será aplicado, mesmo sob a jurisdição da corte inglesa. Isso reflete a importância do Brasil na proteção ambiental global, especialmente em um momento de crise climática. Segundo Ana Carolina Salomão, advogada das vítimas, o caso pode impor novas práticas às multinacionais em relação à responsabilidade ambiental e ao cumprimento de normas em países do hemisfério sul.

O crime ambiental de Mariana resultou em 19 mortes e liberou cerca de 44 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos, que devastaram o distrito de Bento Rodrigues e se espalharam por 675 quilômetros, até alcançar o oceano Atlântico. O crime não só destruiu comunidades, mas também deixou impactos profundos no ecossistema da região, afetando o rio Doce, sagrado para muitos povos indígenas.

Representantes das vítimas, incluindo indígenas e quilombolas, estão em Londres para acompanhar o julgamento. Entre elas, Pamela Fernandes, que perdeu a filha Emanuelle no desastre, enfatizou a busca por justiça e responsabilidade da BHP. Ela destacou que, mais do que indenização, as famílias querem que os responsáveis sejam punidos e que a memória das vidas perdidas seja respeitada.

Para as vítimas, o julgamento é uma oportunidade de expor a responsabilidade da multinacional em uma das cortes mais respeitadas do mundo e, finalmente, garantir que o crime não passe impune.