Foto: Reprodução / Doc Rios Voadores

Raramente a atividade diária vertiginosa em que vivemos, especialmente nas zonas urbanas das nossas cidades, nos permite parar e refletir sobre aspectos básicos da nossa vida cotidiana, sem os quais não seríamos capazes de sobreviver. Entre outros, a qualidade do ar que respiramos, se a temperatura do local onde vivemos é habitual, ou se a água que consumimos diariamente é um bem perecível.

De repente, ignoramo-los, passam despercebidos na credulidade de que há quem cuide deles, delegando uma responsabilidade que é também nossa. E como tudo o que fazemos, as decisões que tomamos todos os dias têm impacto no mundo que nos rodeia, proponho um parêntesis.

Na região da América Latina, que nos contém e da qual refletimos, quando nos referimos aos recursos naturais básicos, como a água ou o ar que respiramos, o território incomensurável que partilhamos imediatamente vem-me à mente: imponentes cadeias de montanhas, rios majestosos, florestas sem fim, planícies imensas e muito mais.

Podemos dizer que temos uma reserva natural garantida que nos acompanhará por gerações vindouras. Mas é precisamente graças aos mais jovens, aos apelos à atenção dos ambientalistas e, sobretudo, à estreita ligação com a natureza dos habitantes originais do continente, os povos indígenas, que se levantaram avisos sobre a degradação dos solos, a poluição dos rios e a desflorestação descontrolada.

A fim de esclarecer alguns dos fatos, vamos nos concentrar na maior floresta tropical do mundo, a Amazónia, com uma extensão estimada de 8.000.000 km2 distribuídos em 9 países do continente sul-americano. De acordo com dados da ONU Ambiente, a “Amazônia representa 56% das florestas tropicais do mundo e armazena entre 90 e 140 mil milhões de toneladas de carbono (180 T/ha), e onde vivem, (2016) cerca de 34 milhões (outros dados reclamam 48 milhões) de pessoas, incluindo 1,5 milhões de povos indígenas de 385 localidades diferentes, incluindo 86 línguas e 650 dialetos, representa portanto um bioma fundamental, tanto para os países sul-americanos como para o equilíbrio do ambiente global, pelo que a existência deste importante património natural e cultural”; da humanidade não pode ser comprometida.

A sua floresta tropical fornece umidade a toda a América do Sul, determina os padrões de precipitação na região, contribui para a estabilização do clima global e alberga a maior biodiversidade do mundo.

Segundo um estudo do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), uma árvore, sejamos claros, uma única árvore de 10 metros de diâmetro pode libertar cerca de 500 litros de água na atmosfera sob a forma de vapor por dia, uma informação fascinante sobre estes habitantes milenares da maravilhosa mãe terra que nos tenta a aventurar cálculos do que este número representa se pensarmos na maior floresta contínua da Terra: a Amazônia.

Para esclarecer a aventura na voz de um especialista, o cientista brasileiro Antônio Nobre, numa publicação da BBC, diz que “uma árvore frondosa, com uma copa de 20 metros de diâmetro, transpira mais de 1.000 litros num único dia”. Na Amazônia ainda temos 5,5 milhões de quilômetros quadrados ocupados por floresta nativa, com aproximadamente 400 mil milhões de árvores das mais variadas dimensões.”Fizemos as contas, o que também foi verificado independentemente, e chegamos ao impressionante número de 20 milhões de toneladas (ou 20 bilhões de litros) de água que é transposta todos os dias pelas árvores da bacia amazônica”.

É mesmo poético, as massas de ar carregadas de vapor de água produzido pela evapotranspiração, chamadas por Nobre de “rios voadores”, transportam umidade por toda a região e influenciam com as suas enormes nuvens de chuva a precipitação em todo o território sul-americano. Rios voadores, diz ele, por vezes muito mais abundantes do que os rios que correm através dos solos amazônicos.

E aqui está um fato que liga a imensurável Amazônia com outra majestade sul-americana, a cordilheira dos Andes. A sua conformação geográfica está intimamente ligada. Estudos concluem que o nascimento dos Andes foi um fator determinante para o surgimento e a propagação da biodiversidade tropical. A ligação permanente: os rios voadores que correm pela atmosfera sobre a Amazônia encontram-se, são retidos, pelos Andes e causam as chuvas a mais de 3.000 quilômetros de distância em toda a região da América do Sul, vitais para a produção agrícola e para a vida de milhões de pessoas na América Latina.

Os sinais de alarme: a degradação e a desflorestação ameaçam o ecossistema amazônico e as comunidades humanas que vivem em harmonia há milhares de anos. É causado pelo abate comercial de árvores, a expansão da pecuária e do garimpo, a mineração ilegal. De fato: no Brasil, entre janeiro e novembro de 2019, os incêndios destruíram mais de sete milhões de hectares. Na Bolívia, no mesmo período, o fogo destruiu mais de dois milhões de hectares na Amazônia. A desflorestação leva à destruição do habitat natural das comunidades humanas (EcologíaVerde.com).

A Amazônia é uma região vital para a sobrevivência do planeta e da nossa vida cotidiana. Para além da informação sobre o seu papel na regulação da humidade e na geração de chuva e água doce no nosso continente, sabemos isso:

  • Armazena entre 90 e 140 mil milhões de toneladas de carbono que contribuem para estabilizar o clima do mundo.
  • Produz aproximadamente 20% do oxigênio na atmosfera. O ar que respiramos.
  • A água que bebemos e utilizamos na agricultura, indústria e transportes depende em grande parte da saúde e sustentabilidade da Amazónia.
  • É o lar de algumas das maiores biodiversidades biológicas do planeta. Milhares de espécies vegetais e animais.
  • É um território de identidade habitado por cerca de 48 milhões de pessoas, 400 povos indígenas com aproximadamente 86 línguas e 650 dialetos. É, portanto, uma referência cultural vital.
  • O desmatamento e a degradação da Amazônia são responsáveis por aproximadamente 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa.

É por isso que afirmamos que a Amazónia nossa de cada dia é essencial para a sobrevivência e bem-estar da humanidade, especialmente para aqueles de nós que habitam estes territórios mágicos de rios voadores. Esta é uma Amazônia que nos impele a trabalhar em conjunto para proteger e preservar a sua saúde e sustentabilidade para as gerações futuras.

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