Jovens negros, indígenas e LGBTQIA+ reivindicam direitos através de artes: ‘O Brasil que a gente imagina’
Realizado entre junho e setembro, o projeto é fruto da formação de jovens, entre 15 e 29 anos, moradores de periferias
Descriminalizar corpos negros, valorizar culturas indígenas e nordestinas, e fazer política através da arte digital e futurística. Após três meses de aprendizado, participantes do Laboratório Permanente Afro-ameríndio — um dos cursos oferecidos pela agência GatoMÍDIA — lançaram na última sexta-feira (21) a campanha “O Brasil que a gente imagina”. O projeto tem como objetivo divulgar produções visuais pensadas a partir de críticas sociais e estimular o debate sobre as vivências periféricas e LGBTQIA+ neste período histórico de eleições. Todas as artes estão disponíveis no site criado pelos próprios alunos para difundir país afora suas obras.
Realizado entre junho e setembro, o projeto é fruto da formação de jovens, entre 15 e 29 anos, moradores de periferias e zonas rurais de seis estados: Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Norte, Pará, Mato Grosso e Piauí. O foco do laboratório é ensinar como produzir narrativas visuais, imersivas e tecnológicas, através do resgate da história afro-brasileira, além de aguçar o pensamento crítico sobre como a mídia pode ser um espaço de transformação social.
A artista baiana Ianca Gomes produziu uma colagem denominada “365 dias sem fome: a reformulação de uma nova perspectiva preta”. Ressignificando a camisa verde e amarela, ela explica que a arte propõe uma nova reconfiguração dos aparelhos comunicativos e visuais, protagonizado por mulheres e homens negros na tela do cinema, na TV e no Congresso Federal. A experiência no projeto, segundo ela, transformou sua perspectiva social.
— Caminhei de mãos dadas com meus irmãos nesta imersão que transbordou afeto e acolhimento. Gratidão a todos que fizeram parte deste projeto tão potente. Que ele se perpetue nos imaginários das pessoas negras do agora, pois no futuro as perspectivas de realidades serão outras. Foi a experiência mais incrível que tive o prazer de participar — relata Ianca.
A potiguar Sarah Esli produziu a arte “Tempo, Território, Corpo”. Nela, ela conta a história de Seu João, que faleceu cedo demais. Criticando as mazelas que recaem sobre o corpo nordestino e pobre, ela busca exaltar a história de vida do homem, que vai além das dores do dia a dia.
— O Lab foi uma experiência que expandiu horizontes! Desde os conteúdos e conhecimentos compartilhados, até as possibilidades de conhecer pessoas tão diversas. Algumas coisas pude aprofundar, outras pude ter o contato pela primeira vez. De uma forma ou de outra, o Lab deu um impulso para seguir criando e pesquisando — contou a artista.
Com encontros online, o Laboratório Permanente Afro-ameríndio contou com a colaboração de importantes comunicadores, cientistas, ativistas e artistas para serem produzidos, entre eles Nina da Hora, Alice Pataxó, Renato Noguera e Skarlati kemblin. Este ano, todo o conteúdo experienciado resultou em nove projetos antirracistas, uma resposta pedagógica e política ao contexto atual brasileiro.
De acordo com a fundadora da GatoMÍDIA, Thamyra Thâmara, a campanha “O Brasil que a gente imagina” busca expandir a participação popular e jovem na política através da arte, como forma de reivindicar direitos.
— A formação em mídia é muito importante por estarmos inseridos numa sociedade midiática. E a nossa missão é mostrar que é possível usar essa ferramenta para construirmos o Brasil que a gente quer, que preza pelos mais marginalizados. Olhando para as nossas comunidades, meio ambiente e cultura, podemos escrever as principais necessidades e fazê-las serem ouvidas por meio da potência das redes. Por isso, depois de quatro anos de um governo difícil, queremos que o jovem esteja no presente pautando as mudanças do futuro — explica Thamyra.
Nas redes, a hashtag #OBrasilqueagenteimagina vai estimular o engajamento com posts e vídeos que dialogam com as iniciativas apresentadas, que devem valorizar as inúmeras vivências e necessidades dos negros, indígenas e LGBTQIA+.
Produzido pela rede GatoMídia, o laboratório é voltado para o protagonismo da juventude negra, indígena e de populações tradicionais de todo o Brasil, engajados com reparação social, equidade de gênero, equidade socioeconômica e democracia. Entre os objetivos estão a possibilidade de potencializar a criação artística e política de comunicadores, cineastas, artistas e tecnólogos periféricos através da valorização da cultura, história e filosofia afro-ameríndia.
Sobre a agência GatoMídia
O GatoMÍDIA é uma agência, rede e metodologia de aprendizado em mídia e tecnologia para jovens negros e moradores de favelas e periferias do Brasil. Criado em 2013, no Complexo do Alemão, tem como objetivo estimular jovens a produzir sua própria comunicação, construir narrativas sobre si e se conectar com o mundo.