Imagem: Divulgação Valetina

Hoje a minha coluna tem objetivo exclusivo de enaltecer uma produção audiovisual fantástica: o filme Valentina, do diretor Cássio Pereira dos Santos. O filme já emplacou importantes prêmios em várias partes do mundo. Vocês precisam assistir!  Vou fazer uma lista das razões, mas a principal é que é um filme MUITO BOM! Sabe aquela história bonita, que nos reporta às densas vivências do cotidiano, com a qual a gente facilmente se identifica e se vincula? Esse filme é assim.

Valentina conta a história de uma menina trans, estudante do ensino médio, que se muda para a pequena cidade de Estrela do Sul, Minas Gerais, com sua mãe Márcia, interpretada por Guta Stresser.  A fotografia nos remete à cidade pequena, às ruas sem trânsito, ao ambiente doméstico, as panelas areadas, as coisas simples e bem cuidadas.

Acompanhando a história de Valentina e sua mãe Márcia, nos aproximamos de forma sensível do drama das meninas e meninos trans e suas interdições, especialmente ao direito de estudar, seja pelos entraves burocráticos em relação ao uso do nome social (apesar da legislação garantir o direito), seja pela expulsão da escola. Como bem lembra a protagonista Thiessa Woinbackk:  “a partir do momento que você não respeita o nome social de uma aluna ou aluno trans na escola, isso fere a pessoa e ela sai da escola por causa desta e de outras violências, isso não é evasão escolar, isso é expulsão”. É isso.

Precisamos refletir sobre a expulsão escolar, promovida pelos “cidadãos de bem”, que se incomodam com a liberdade das pessoas trans e produzem tanta violência, seja ela psicológica ou física e produz adoecimentos e mortes. Essa questão é da máxima relevância no Brasil hoje – considerando o avanço do conservadorismo na última década, sobretudo, nos últimos 5 anos.

Valentina é uma produção cultural que dialoga com a realidade das meninas trans e suas famílias. Nos fala das durezas da vida, num país transfóbico, onde a expectativa de vida dessa população é de apenas 35 anos. Inaceitável!

Para enfrentar essas durezas, Valentina nos lembra que os vínculos afetivos são tão fundamentais para afirmar o direito de ser e de existir. Neste sentido, o filme dialoga com a força da mãe para sustentar a filha trans, nas labutas pelo sustento material e as labutas (talvez maiores ainda) para enfrentar o cis-tema. Além disso, como a arte imita a vida, o pai age como a maioria dos pais da vida real no Brasil.

Valentina nos fala sobre a violência da transfobia. Lembra que não somos isso e que poderíamos ser outra coisa. É um filme também sobre solidariedade, amor, escola e cultura. É sobre a potência da juventude, mostrando que fora do eixo também há inteligência, coragem e resistência representada na Amanda (Letícia Franco) e em Júlio (Ronaldo Bonafro) – a história do Júlio eu amo!

Eu espero que vocês assistam ao filme e aposto que vão gostar.

Valentinem-se!

O filme Valentina foi lançado nesta quarta-feira (15) nas plataformas digitais iTunes/AppleTV, Google Play, Youtube Filmes, Net Now/Claro e Vivo Play. Os links para as plataformas estão disponíveis no site do filme: www.valentinafilme.com.br

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