Jongo do Vale do Café: Dois quilombos fluminenses registram 32 pontos centenários em novo álbum
O álbum Jongo do Vale do Café traz visibilidade e perpetua o jongo e a sua tradição.
Por Letícia Gomes / SOM
Os quilombos centenários do Vale do Café, Jongo do Quilombo São José e Jongo de Pinheiral, localizadas no interior do Estado do Rio de Janeiro, se uniram à nova geração de jongueiros do Morro da Serrinha, em Madureira, para lançar um álbum inteiramente dedicado ao gênero musical que está na matriz da música brasileira. O álbum Jongo do Vale do Café traz visibilidade e perpetua o jongo e a sua tradição.
Ele reúne 32 pontos centenários, das comunidades do Vale do Rio Paraíba. Mais de 40 cantores e percussionistas participaram do estúdio montado ao ar livre na floresta, além dos dois tambores centenários e de tronco escavado como em Angola: o caxambu e o candongueiro.
O disco foi gravado num terreiro de terra batida numa floresta do Quilombo São José, em Valença, lugar sagrado de mais de 200 anos de história, onde foram reunidos para uma imersão todos os mestres de duas comunidades centenárias da região, verdadeiros berços do jongo no Vale do Café e guardiões das suas raízes.
O jongo é considerado o “pai do samba” carioca. Teve suas origens vindas de Angola para o Brasil-Colônia, com centenas de escravizados trazidos para o trabalho forçado nas senzalas do Vale do Café, das margens do Rio Paraíba do Sul.
Na região, se concentraram famílias negras que enfrentaram a escravidão e se tornaram grandes e talentosos artistas, criando gêneros musicais emblemáticos para a cultura nacional como o jongo, o calango, as folias, os terços, os pastoris, os cantos de trabalho e as ladainhas. Um caldeirão cultural de onde saíram matrizes fundamentais para o nascimento da MPB e, em especial, do jongo que deu origem ao samba.
“Muitos desses artistas e suas famílias não receberam suas terras com a suposta abolição e foram expulsos das fazendas. Com isso, desceram as serras das cidades do Vale do Café para a capital do Rio à procura de moradia e trabalho. Ao chegarem na cidade, sem ter onde morar, fundaram no alto dos morros as primeiras favelas: Providência, São Carlos, Mangueira, Salgueiro e Serrinha. Anos depois, esses mesmos mestres do jongo inventaram o samba junto com os baianos também recém-chegados e fundaram as primeiras Escolas de Samba do Brasil”, conta Marcos André.
Outras famílias resistiram e conseguiram permanecer no Vale do Café, onde criaram quilombos de resistências e agora gravam este Jongo do Vale do Café. As duas comunidades remanescentes dos dois quilombos foram fundadas por volta de 1850 e apresentam só agora, neste álbum, essa tradição na sua forma original.
FICHA TÉCNICA:
Realização, pesquisa e direção artística: Marcos André
Produção: Rede de Jongo do Vale do Café
Direção musical: Marcos André e Thiago da Serrinha
Engenheiro de som e gravação: Philippe Ingrand (Doudou do Som)
Mixagem: Doudou do Som e Marcos André
Masterização: em maio de 2023, na Califórnia, por Ken Lee Mastering
Vozes: Jongo de Pinheiral: Mestras Fatinha, Meméia e Gracinha, Cintian e Dede.
Jongo do Quilombo São José: Mãe Tete, Seu Jorge, Pádua, Gilmara, Luzia, Luciene, Carmen, Jorgina, Santinha e Lucia Helena.
Serrinha: Rodrigo Nunes, Marcos André, Pai Dário de Ossai, Thiago da Serrinha, Nina Rosa, Hamilton Fofão e Joyce Kelly.
Tambores: Pádua, Jorjão, Anderson Vilmar, Thiago da Serrinha, Geovane, Valdeci, Vitor e João
Cavaquinho: Hamilton Fofão