JBS é uma das principais financiadoras da bancada do Agro, revela relatório
Frigorífico brasileiro é um dos campeões de reuniões com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e tem muito interesse em financiar a Bancada do Agro e arquitetar projetos junto ao Congresso
O dossiê “Os Financiadores da Boiada: como as multinacionais do agronegócio sustentam a bancada ruralista e patrocinam o desmonte socioambiental“, publicado pelo De Olho nos Ruralistas, revela a participação de empresas globais no financiamento ao Instituto Pensar Agro (IPA), o cérebro pensante por trás da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Uma dessas companhias é o frigorífico brasileiro JBS, o maior produtor de proteína animal do mundo e um das maiores financiadores da Bancada do agro no Brasil.
A empresa ocupa o segundo lugar entre as empresas mais recebidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) durante o governo Bolsonaro, registrando 75 reuniões entre janeiro de 2019 e junho de 2022. Ela fica atrás apenas da agroquímica sino-suíça Syngenta, com 81 encontros. O frigorífico, que leva as iniciais de seu criador José Batista Sobrinho, iniciou sua produção alimentícia em 1953, sob o nome de Casa de Carnes Mineira, na cidade de Anápolis, em Goiás. Hoje, com valor de mercado de 36,44 milhões de reais, mais de 70 marcas, que chegam a 190 países em todo o mundo, a JBS tem um histórico de controvérsias.
Greenwashing
Nos últimos seis anos, 17 mil quilômetros quadrados de terra, o equivalente a cerca de 800 milhões de árvores, foram desmatados nas áreas abastecidas por cerca de 20 dos maiores abatedouros de exportação na Amazônia, segundo estudo realizado pela AidEnvironment, comprovado pelo Imazon e divulgado pela Amazônia Real. Desses abatedouros, 13 pertencem à gigante JBS, três à Minerva e seis à Marfrig, para onde, por exemplo, o fazendeiro Ronaldo da Cunha envia seus animais.
“A Amazônia não pode se dar ao luxo de perder tantas árvores… isso tem implicações globais”, expressou Alex Wijeratna, da ONG Mighty Earth. Nos últimos 40 anos, mais de 17% da floresta amazônica foi destruída, enquanto os cientistas estimam que o “ponto de inflexão” da Amazônia está em torno de 20-25%. A partir desse ponto, a floresta tropical começaria a assemelhar cada vez mais a uma savana, e a famosa “defesa natural” contra as mudanças climáticas poderia colapsar.
De dimensões tão extensas quanto as da Europa, a floresta tropical abriga mais de um décimo da biodiversidade mundial e atua como um “sumidouro de carbono”, ou seja, absorve mais CO2 do que emite. Portanto, possui um papel crucial na limitação dos gases de efeito estufa emitidos e no combate às mudanças climáticas que assombram o futuro do planeta.
Em 2022, a Repórter Brasil mostrou que os pecuaristas Juscelino Dias Moreira e Cleosmar Antonio Turmina, donos de fazendas incidentes na TI Apyterewá, no Pará, venderam gado para a JBS de 2018 até, pelo menos, abril de 2022. Após a reportagem, os dois fornecedores foram bloqueados pelo frigorífico. No mesmo ano, a empresa afirmou ter abatido aproximadamente 75 mil bovinos por dia, destinados a clientes em mais de 190 países. Com cerca de metade da capacidade, Marfrig e Minerva continuam sendo dois grandes atores do setor, do abate à venda, e cuja produção é majoritariamente centrada na carne bovina.
Apesar de receber prêmios de sustentabilidade e ter anunciado que cortaria suas emissões de carbono até 2040, a JBS vem aumentando suas emissões e em 2022 sua pegada de carbono era maior que países como Itália e Espanha, e próxima da de outras nações europeias, como Reino Unido e França, de acordo com o Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP), Feedback, Mighty Earth e DeSmog. A análise utilizou metodologias aprovadas pelo IPCC para estimar o volume de emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa.
“É impressionante que a JBS continue a reivindicar ações e objetivos climáticos aos seus investimentos, ao mesmo tempo em que aumenta massivamente suas emissões”, comentou Shefali Sharma, diretora do IATP. “Nossas estimativas mostram claramente o dano causado por anúncios vazios de net-zero”.
Além disso, o IATP constatou que a JBS é a maior emissora de gases de efeito estufa entre as empresas de carne e laticínio por uma quantia significativa, que está ligada ao crescimento econômico da empresa, que aumenta as emissões ligadas à produção da carne e causa desmatamento e a destruição de bacias hidrográficas, principalmente no Brasil. O Monitor de Responsabilidade Climática Corporativa feita pelo New Climate Institute e Carbon Market Watch em 2022 classifica os programas da JBS com transparência e integridade muito baixas.
Diante de tanto envolvimento em escândalos ambientais, é natural que a JBS tenha interesse direto na nova Lei que foi aprovada no calar da noite pelo Senado ano passado, pouco antes da saída de Jair Bolsonaro (PL) do poder. O projeto da autofiscalização do agronegócio, que transfere do Estado para empresários a responsabilidade pelo cumprimento de normas sanitárias, conhecido como PL 1293/21, faz parte do pacote de projetos de lei chamados por ambientalistas de “boiadinha”, que favorecem a escalada da devastação ambiental no país. Conforme a nova lei, as empresas do setor agropecuário deverão auxiliar o poder público na tarefa de manter rebanhos, lavouras e produtos saudáveis.
Ao ser questionado sobre sua relação com a Frente Parlamentar do Agro, que é responsável pela elaboração e aprovação de leis do pacote “boiadinha”, o frigorífico JBS informou que a empresa “participa de várias associações e entende que é importante contribuir para o debate pelo desenvolvimento do setor”. “Como parte desse diálogo, se reúne também com autoridades públicas sempre conforme as legislações em vigor”, disse em nota para o De Olho nos Ruralistas.