JBS é apontada em 68 casos de desmatamento ilegal na Amazônia e Cerrado
Área afetada corresponde a 125,4 mil quilômetros
Área afetada corresponde a 125,4 mil quilômetros
Por Fernanda Damasceno
As ONGs Mighty Earth e AidEnvironment divulgaram 68 casos de desmate em fazendas com indícios de ligações direta, indireta ou potencial com a JBS, a maior empresa de alimentação do mundo. Os casos ocorreram na Amazônia e no Cerrado durante o período de 2019 a 2022 e, de acordo com os dados, quando somadas as áreas desmatadas, elas correspondem a 125,4 mil hectares — desses, 73,7 mil hectares são de áreas protegidas, como reservas legais e Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Em reportagem feita pela Folha de S.Paulo, Joana Faggin, pesquisadora sênior da AidEnvironment, ONG focada em pesquisas sobre agricultura, com escritórios na Holanda, Indonésia e Uganda, falou sobre a pesquisa: “Os alertas são confirmados por imagens de satélite de alta resolução do (sistema) Planet”, disse.
A conexão da propriedade com a compra de gado pela JBS é feita pelos pesquisadores através das GTAs, as guias de trânsito animal, que informam as fazendas de origem e de destino do gado. Das 68 fazendas com desmatamento verificado pela ONG, 21 são fornecedoras diretas de gado para a JBS: o gado sai da fazenda onde houve desmatamento e vai diretamente para um frigorífico da JBS. Os outros 43 casos de desmatamento aconteceram em fazendas de fornecedores indiretos, ou seja, em propriedades que forneceram o gado para uma segunda fazenda, que, por sua vez, vendeu para a JBS.
Há ainda um terceiro nível de conexão, o potencial, que corresponde a 4 dos 68 casos. Para eles, não há dados suficientes para atestar o fornecimento, mas indícios, como no caso de o frigorífico ser o principal exportador de carne de um município com desmatamento. “O frigorífico deveria estar atento a esse desmatamento. É um alerta. Já nas ligações média e alta (que comprovam fornecimento direto ou indireto), o frigorífico precisa verificar aquele fornecedor”, distingue Faggin.
A companhia afirma que 69% desses episódios foram identificados por suas políticas de monitoramento, e os fornecedores, bloqueados. A JBS nega que os demais 31% sejam fornecedores.
Reincidente
Uma investigação inédita feita pela Repórter Brasil, em parceria com o Greenpeace Brasil e o Unearthed, divulgou, em novembro de 2022, que a brasileira JBS comprou 8.785 cabeças de gado de três fazendas que desmataram a Amazônia em Rondônia e que pertencem ao mais famoso grupo de infratores ambientais do estado, cujo líder, Chaules Volban Pozzebon, está preso por extração ilegal de madeira e é considerado o maior desmatador do país.
Em nota, a JBS disse, na época, que “a partir das informações apresentadas pela Repórter Brasil, ficou claro que o grupo mencionado vinha, de má-fé, se valendo da conivência de funcionários da Friboi (que pertence à JBS) para burlar o sistema e enviar gado produzido em fazendas com irregularidades socioambientais”.