Na encruzilhada entre as raízes do rock e a cultura afro-brasileira está “Vereda”, o primeiro álbum de estúdio da banda Jasper e a Gana (@jaspereagana), o trabalho chega no dia 22 de maio, cinco anos após a formação do grupo, e marca um momento decisivo em sua trajetória.

Com oito faixas, “Vereda” estabelece uma jornada sonora e poética que explora a origem preta do rock, as vivências LGBTQIAP+ e a religiosidade afro-brasileira, permeadas ainda por uma crítica social contundente que é evidenciada pela voz do vocalista Jasper Okan.

Abordando temas como amor, violência, espiritualidade e identidade, “Vereda” é uma celebração literal e metafórica das encruzilhadas: os encontros que geram possibilidades e expansão de caminhos. As músicas refletem a rica herança cultural afro-brasileira, assim como a origem histórica do rock como manifestação cultural negra, a partir da lenda de Robert Johnson no blues e o canto das pessoas pretas escravizadas na América do Norte.

“Ao resgatar a lembrança da contribuição de pessoas pretas e queers ao rock, falamos de corpos que até hoje exploram possibilidades, principalmente, em termos de manutenção de suas comunidades”, diz Jasper. “Em um cenário embranquecido, celebrar as reais origens desse gênero é abrir possibilidades para um novo futuro”.

A sonoridade do álbum reflete esses encontros sonoros e poéticos, como a juventude preta atravessada pela violência em “Pecado da Cor” e o cruzamento da musicalidade dos terreiros com simbologias cristãs em “Culpa” e “Babel”.

Confira a história de cada uma das faixas:

  1. Lonan: é uma oferenda a Exú. A faixa pede abertura de caminhos para o álbum e para a reivindicação das origens negras do rock. A melodia baseia-se no canto de negros escravizados dos Estados Unidos, gravado por Ed Lewis em 1930, com a marcação da enxada sendo substituída pelo xequerê.
  2. Refúgio: lançada como primeiro single do projeto, a música aborda a jornada de pessoas pretas, queers e outros corpos marginalizados em busca de afeto, empoderamento e superação. Apesar de abordar o romance, a canção destaca os atravessamentos sociais que essas pessoas enfrentam em sua busca por amor e pertencimento.
  3. Culpa: a faixa ironiza o punitivismo e a hipocrisia do moralismo cristão. A música utiliza terminologias cristãs para criticar a veneração de medidas violentas em nome de Deus e a perseguição impiedosa.
  4. Ouro: é uma prece a Oxum, orixá da prosperidade. O bumbo da música simula a batida do coração, simbolizando a presença de Oxum.
  5. Chororô de Céu: conta os últimos desabafos e desejos do pai falecido do vocalista, revelando sentimentos compartilhados entre eles, mas que não foram dialogados.
  6. Pecado da Cor: música que questiona o genocídio da juventude preta e a impunidade da branquitude, jogando com a expressão “Cor do Pecado” para explorar temas de violência e opressão.
  7. Ponto de Ondina: narra a história de Maria Ondina, uma preta velha de Iemanjá que fugiu de uma casa grande. A música incorpora elementos de pontos cantados de terreiro junto de palmas e coros.
  8. Babel: canção que clama por respeito às identidades trans e não binárias, afirmando o direito inegociável de uma pessoa trans ter sua identidade respeitada, independente de língua, crença ou ideologia.

O disco foi gravado em grande parte ao vivo, com a banda tocando junta em estúdio para capturar a essência de suas performances. Além de Jasper, formam o grupo os músicos Aryan Nay (percussão), Igor Pupo (guitarra) e Ramone (baixo).

A gravação, mixagem e masterização ficaram a cargo de Eduardo Magliano, com os arranjos elaborados coletivamente pelos membros da banda. As sessões de gravação ocorreram no estúdio Fauhaus, em março de 2022.

A estreia do disco vem acompanhada de um videoclipe para a faixa “Culpa”, que traz os membros da banda em uma narrativa simbólica que dialoga com a histórica cantada pela música. A direção é do vocalista da banda, Jasper Okan.

SOBRE O GRUPO


Jasper e a Gana é uma banda de “rock de tambor” formada por Jasper Okan (voz e guitarra) e pelos músicos Aryan Nay (percussão), Igor Pupo (guitarra) e Ramone (baixo), que juntos misturam os elementos do rock aos ritmos brasileiros numa prosa entre diásporas negras. A “Gana” se nutre pela quebra de barreiras e a potencialização de vozes LGBTQIA+, negras e demais corpos dissidentes. A construção do som desvenda essas possibilidades a partir dos encontros de existências plurais: os tambores de makumba cantam junto aos herdeiros do delta blues em suas encruzilhadas, reivindicando o gênero rock dentro do seu caráter questionador, expansivo e ancestral. Atualmente, o grupo se prepara para o lançamento do seu primeiro álbum de estúdio.