Jamaica assume liderança de países vulneráveis e cobra ação global urgente na COP30
Ministro pediu que grandes emissores honrem compromissos: “Não criamos esta crise, mas recusamos ser vítimas”
Jorge Fagundes, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
A Jamaica assumiu um papel central na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ao realizar em Belém (PA), um discurso contundente entre os países que são mais vulneráveis à crise climática. Três semanas atrás a passagem do furacão Melissa devastou a ilha.
O ministro do Crescimento Econômico, Matthew Samuda, fez um alerta global ao afirmar que, para seu país, a emergência climática não é um debate político, mas uma questão de sobrevivência.
Em seu pronunciamento, com trechos aqui reproduzidos de matéria do The Guardian, disse que o furacão Melissa mudou a vida de todos os jamaicanos em menos de 24 horas.
“O furacão de categoria 5, que atingiu a ilha há três semanas, causou quase US$ 10 bilhões em danos e deixou centenas de milhares de pessoas desabrigadas”.
“Não criamos esta crise, mas recusamos ser vítimas”.
Então, fez um apelo à comunidade global, especialmente aos grandes emissores, para que honrassem seus compromissos.
“A próxima tempestade já está se formando, e nossa única defesa é a ambição, o financiamento e a vontade coletiva. Conclamamos a comunidade global, especialmente os grandes emissores, a honrar seus compromissos e a salvaguardar o limite de 1,5 grau. Para a Jamaica, isso é questão de sobrevivência. Trata-se do nosso povo e do seu direito a um futuro seguro e próspero.”
Segundo a ONU, o Melissa abalou metade da população jamaicana: Mais de 1,5 milhões de pessoas perderam suas casas e meios de subsistência.
Matthew Samuda destacou que o evento climático extremo, intensificado pelo aquecimento global, é o símbolo mais claro de uma nova fase de impactos climáticos, que atinge de forma desproporcional as nações insulares.
Pressão sobre grandes emissores
A pressão da Jamaica na COP30 ganhou força com o apoio de outros países igualmente atingidos. Representantes de Cuba e Ilhas Maurício reforçaram o apelo por mais ambição climática e financiamento urgente.
O vice-ministro cubano Armando Rodríguez Batista lembrou que seu país também foi inundado após a passagem de Melissa e alertou que o mundo já perdeu tempo demais para agir.
Sobre as Ilhas Maurício, um dos países mais ameaçados pela elevação do nível do mar, o ministro Dhananjay Ramful afirmou que a crise climática ameaça literalmente a existência de seu povo. Para essas nações, os recursos prometidos pelos países ricos ainda chegam devagar e em quantidade insuficiente diante da velocidade dos desastres climáticos.
Ritmo lento de negociações
Apesar da pressão crescente, o ritmo das negociações continua lento. Simon Stiell, chefe climático da ONU, criticou o descompasso entre a urgência dos impactos e a morosidade da diplomacia internacional, ressaltando que as mudanças necessárias na economia global não acompanham a gravidade da situação.
Entre os temas que seguem travando a conferência estão o financiamento climático, as regras de transparência, o comércio de carbono e, principalmente, a atualização dos compromissos nacionais de redução de emissões. Os atuais NDCs colocam o planeta em uma rota de 2,5 °C de aquecimento, muito além do limite considerado seguro pela comunidade científica.
Cobrança
O governo brasileiro, anfitrião da COP30, também reforçou a preocupação. Em seu pronunciamento, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que cada fração adicional de grau representa vidas em risco, populações vulneráveis ainda mais expostas e desigualdades ampliadas.
“O tempo das promessas já passou”, disse ele.
A pressão por ação ganhou ainda mais peso com a mensagem enviada pelo Papa Leo XIV, que pediu coragem política para transformar promessas em medidas reais, lembrando que as decisões tomadas em Belém têm implicações éticas e humanitárias profundas.
O discurso da Jamaica se tornou um dos momentos mais marcantes da COP30 por dar voz às nações que sofrem na pele os impactos mais severos da emergência climática. Para esses países, não se trata mais de projeções ou cenários futuros, mas de sobrevivência imediata.
Especialistas e negociadores concordam que, se a conferência de Belém quiser ser lembrada como a COP da implementação, será necessário responder ao apelo dessas nações com ações concretas, financiamento robusto e compromissos alinhados com o limite de 1,5 °C. A Jamaica lançou o alerta. Agora, cabe ao mundo escutar e agir.



