.

Marielle Franco, referência de toda uma nova geração política, foi brutalmente assassinada. Lula, principal liderança popular do Brasil, foi preso.

A execução de Marielle e a prisão de Lula estão conectadas porque são consequência direta da mesma escalada autoritária que está em curso no Brasil.

Escalada que ceifa ainda mais escandalosamente a juventude negra e periférica, no país que assassina um jovem negro a cada 23 minutos (a maioria deles vítimas de agentes do Estado, como Luana Barbosa, Claudia da Silva, os meninos de Costa Barros, Amarildo e DG).

Não denunciar a conexão entre todos esses fatos e elementos políticos é fragmentar a realidade. É o que nossos inimigos querem.

O momento da história que vivemos é de disputa política com o fortalecimento inédito no Brasil de uma nova versão do fascismo. É preciso relembrar aos mais diversos setores da sociedade que os fascistas já assassinaram socialistas, democratas e liberais, conservadores e progressistas.

Até Gilmar Mendes, o ministro do STF prócer do conservadorismo, cria da ARENA, de histórica família de latifundiários que perpetua a lógica das capitanias hereditárias no país, alertou sobre os “fascistóides”.

Será que não restam mais liberais ou republicanos autênticos no Brasil?

Ao flertar ou permitir o avanço dessa ofensiva autoritária, o dito “centro”, “sociais-democratas” podem estar sendo cúmplices de um processo do qual serão vítimas também.

E serão com certeza, pois a abertura de um ciclo político autoritário, não tem limites ou prazo para acabar depois que estiver consolidado no poder.

O autoritarismo altera a lógica da política em direção à crescente centralização do poder na sociedade.

O círculo dos que têm acesso ao poder vai se espremendo e cada vez mais, expurga sujeitos diversos, em regra, pelo extermínio de qualquer setor social que faça qualquer questionamento à ordem política, econômica ou social.

Isso aconteceu na Alemanha que elegeu Hittler e parte da própria burguesia acabou virando refém do nazismo.

Então, o último sábado (7), foi uma derrota para todos aqueles que lutam por democracia.

Acima de qualquer lei, decreto ou sentença, está a história concreta que se impõe sobre a vida de todos os seres humanos.

Nesse sentido, é verdade que ouvimos fogos  e os gritos violentos pelas janelas dos apartamentos (não à toa nas regiões de classe média ou mais abastadas das cidades, ficando as periferias em silêncio) e, sim, a prisão de Lula é mais um passo a frente dos fascistas e, portanto, uma derrota da democracia.

Mas, há resistência!

E por essa razão que não prosperaram as calúnias contra Marielle ou o discurso despolitizador propalado pelo partido das Organizações Globo de que as execuções nada tinham a ver com o partido que Marielle construía, com sua defesa consciente da intersecção de raça, gênero, orientação sexual e classe.

Marielle era uma jovem, negra, bissexual, da favela da Maré e socialista. Estatisticamente, ela tinha o dobro de chances de ser assassinada do que uma mulher branca. E atuava politicamente na favela da Maré onde 24% dos moradores vivem em condições abaixo da linha da pobreza e que registrou o quarto maior índice de aumento da mortalidade em 2017.

Contrariando as estatísticas, Mari se tornou uma liderança política forjada entre os tiros, e era a única vereadora mulher negra na segunda maior vitrine do capitalismo brasileiro. Vencedora em meio à miséria e à desigualdade de acesso a direitos. Nossa camarada entrou para a história e provocou debates e lutas no mundo todo. Seu assassinato foi um crime político.

Mas Mari virou multidão, e nós jamais a esqueceremos.

Lula foi condenado, mas permanece com 37% das intenções de voto nas pesquisas e nem mesmo as bancadas do Congresso Nacional, a mídia golpista e o impeachment conseguiram fazê-lo cair.

A prisão de Lula também foi política.

De outro lado, Lula ontem falou sobre o começo de sua trajetória política, que se deu no ano de 1968 com a sua filiação ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e, um ano depois, a eleição como dirigente do sindicato no ABC, em meio aos piores anos de chumbo da ditadura empresarial-militar.

Lula se forjou nas lutas operárias e greves populares que derrubaram o regime que proibia o direito a manifestações políticas, fechou partidos políticos, exilou, torturou e assassinou centenas de militantes no Brasil todo.

Marielle e Lula defendiam projetos políticos muito distintos, Mari era revolucionária, Lula acreditou nas instituições falidas até o último minuto.

Ambos fazem parte da história das lutas populares no Brasil e representam duas gerações distintas do processo de busca da classe trabalhadora brasileira pela construção de um projeto gestado pelos debaixo.

Compreender que a execução política de Marielle e a prisão de Lula são dois episódios tristes da política brasileira em que outra vez o setor mais reacionário avança em sua agenda autoritária é preciso.

A notícia boa é que a trajetória de ambos, ainda que muito distintas, provam que é dos processos mais duros de resistência que também renasce a força do povo para resistir.

Por isso unificar as duas lutas é tão fundamental para a esquerda brasileira.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Marielle Ramires

De braços dados com a alegria

Bella Gonçalves

Uma deputada LGBT na Assembleia de MG pela primeira vez em 180 anos

Célio Turino

Precisamos retomar os Pontos de Cultura urgentemente

Design Ativista

Mais que mil caracteres

Estudantes NINJA

Não existe planeta B: A importância das universidades nas mudanças climáticas

Colunista NINJA

Carta a Marielle Franco: ‘Quem mandou te matar, Mari? Aí do além é mais fácil enxergar?'

Luana Alves

Justiça por Marielle, mais urgente do que nunca. Sem anistia

Design Ativista

Feminismos, sem medo de ser plural

Colunista NINJA

Mulheres: Quando a loucura é filha do machismo

Design Ativista

Afinal, qual o papel da moda? Uma reflexão de vivências

Juan Espinoza

Quando o silêncio entre mulheres é quebrado

Márcio Santilli

Infraestrutura para comunidades

Andressa Pellanda

Revogar o novo ensino médio por uma educação da libertação e não da alienação

André Menezes

Na contramão da inclusão: Do you speak English?